sábado, 20 de fevereiro de 2016

XX

Johanna acorda com o barulho de uma porta a fechar-se. Levanta-se lentamente do chão onde se encontra deitada e vê…

-Martinho?!
- Johanna…
- Como é que saíste de minha casa? Onde é que estamos?
- Respondendo à tua segunda pergunta, não sei bem mas suspeito que na cave do armazém. Em relação à primeira… é uma longa história.
- Ok contas-me mais tarde… agora vamos sair daqui.
- Calma Johanna… acho que isso vai ser mais difícil do que parece.
- Achas que não consigo abrir esta porta?
- Acho que pensas que sim… mas, para além disso, o que me preocupa é o que está do outro lado.
- Uma coisa de cada vez.

Johanna dá um pontapé na porta mas esta não abre como ela esperava. Ouvem bater do outro lado e uma voz a falar, dizendo algo impercetível. Johanna olha para Martinho que retribui o olhar com uma expressão como que a dizer: “eu não te disse?”.
Johanna olha em volta. A divisão em que se encontram é relativamente pequena, talvez com quatro por quatro metros. Não tem janelas, apenas uns respiradores junto ao tecto, na parede que tem a porta. A porta não tem fechadura nem maçaneta. Fixa o olha na parede por cima da porta e pergunta-se porque só agora se apercebeu do que será o detalhe mais importante da divisão, o relógio digital que ali se encontra. O relógio marca 22:23. Olha para Martinho.

- Também já coloquei essa hipótese Johanna. Teremos de esperar uma hora para a confirmar.
- Achas mesmo que a porta se abrirá daqui a uma hora e nove minutos, às 23:32?
- Parece-me que estaremos cá para ver…
- Gostava de não concordar mas…

Johanna senta-se no chão encostada à parede oposta à porta, mesmo em frente desta. Martinho mantém-se em pé, à sua esquerda.

- Ora já que temos tempo para gastar, que tal contares-me como saíste de minha casa?
- Queres mesmo saber?
- Quero!
- Ok… depois de perceber o que tinhas feito, deixando-me sem roupa, sem comunicações, sim que até o computador levaste, e fechado à chave… vesti um vestido teu e abri a fechadura com uma pinça e pronto!
(Johanna olha Martinho com cara de “poucos amigos”)
- …ai foi? E qual foi o vestido que vestiste? Só para te mandar a conta…
- Pronto não faças essa cara. Estava a brincar. A verdade é que depois de me ver na situação em que me deixaste… a propósito porquê que fizeste isso?
- Estás a fugir ao assunto… acho que é obvio porque o fiz, não queria que viesses comigo!
- Pois… e garanto-te que o teu plano teria resultado não fosse o facto de terem entrado três “armários” pela tua porta a dentro e me terem trazido para aqui. Havias de ter visto a cara deles quando me viram nú. Pensando bem um até…
- Mas vestiram-te, ao que parece…
- Sim deram-me estas roupas. Por isso são tão largas, caso estejas a estranhar…
- …então mas três homens entraram pelo meu apartamento e levaram-te sem mais nem menos?
- Sim… e nem sequer arrombaram a porta!
- Não sei porquê mas, por mais inverosímil que fosse, gostava mais da tua primeira versão.
- Inverosímil porquê, achas que não era capaz de vestir um vestido teu?
- Capaz de tentar eras mas duvido que conseguisses caber em algum… e também não te estou a ver a conseguires abrir a minha fechadura com uma pinça…
- Se queres que te diga nem cheguei a tentar…
- Ainda bem, em relação ao vestido, pelo menos assim não tenho perdas a lamentar.
- Infelizmente, isso não é verdade…
- Como assim?
- … não sei como te dizer isto…
- Desembucha Martinho!
- … a kitty…
- O que tem a kitty?
- Ela estava ao pé de mim quando eles entraram… e…
- O que é que eles fizeram à kitty?
- … é melhor não te contar…
- Como é que a mataram?
- Johanna ela tentou proteger-me…
- E…
- … um deles agarrou-a pelo pescoço e só ouvi um estalo…
- …

Johanna olha para Martinho e depois para o chão entre as pernas. Martinho senta-se a seu lado. Ficaram em silêncio. Por fim Martinho chegou-se a ela e abraçaram-se.

- Desculpa… não consegui evitar… foi tudo tão rápido…
- O que poderias fazer, não te deixei forma de te defenderes…
- O MacGyver teria arranjado maneira…
- Sem o canivete e a fita isoladora, não sei…

Sorriram ambos. Ouviram um barulho do outro lado da porta. Olharam para o relógio, marcava 23:31. Assim que passou a marcar 23:32 a porta abriu-se.


(continua)


FATifer

8 comentários:

  1. Respostas
    1. noname,

      Achas? :P

      :)

      Beijinhos e continuação de bom fim de semana,
      FATifer

      Eliminar
  2. Bem disposto e bonacheirão este Martinho! As mulheres gostam de homens que as fazem sorrir...e, rir, ainda mais!! :)
    Coitadinha da kitty. Atirou-se a um dos 'armários'? Sabes que ainda me fizeste ficar a olhar para a palavra uns bons segundos, sem perceber?

    Gostei que me tivesses feito relembrar o MacGyver. O que eu adorava ver essa série! Para ele não havia impossíveis.
    :))

    Beijinhos, bom Domingo.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Janita,

      Calculei que a expressão “armários” (que uso regularmente para designar homens tipo “porteiro de discoteca”) pudesse suscitar dúvidas, por isso expliquei a seguir. ;)

      Tinha uma colega que me chamava MacGyver – escusado será dizer que adoro o personagem! ;)

      Beijinhos e bom Domingo para ti também,
      FATifer

      Eliminar
  3. E o suspense aumenta cada vez mais!
    (Havia necessidade de matares a kitty?!:( )

    Venham lá os próximos capítulos :)
    Beijinho e boa semana :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. BM,

      Sim, continuo a ser um pouco “sádico” na forma como vos deixo em suspenso… ;)

      Não havia necessidade mas apeteceu-me, achei que ficava bem na narrativa. Espero que não me denuncies à sociedade protectora dos animais! :)

      Beijinhos,
      FATifer

      Eliminar
  4. Mania de deixares o pessoal pendurado, páh...

    :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Meu amigo,

      Tens razão! Como admiti na resposta à BM, estou um pouco “sádico” nesse aspecto ;)

      Grande abraço,
      FATifer
      PS – apaguei os outros dois comentários para não ficares em triplicado! :P

      Eliminar

É favor comentar se acha que tem algo a acrescentar…
Aviso apenas que me reservo o direito de eliminar qualquer comentário que entenda, porque sim!