sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

XIX

Martinho acorda com kitty a lamber-lhe uma pálpebra. Olha para o lado, Johanna não está na cama. Olha para o relógio do rádio despertador na mesa de cabeceira do lado oposto ao que está deitado. Passa do meio dia. Levanta-se devagar. Ao passar à frente do espelho é que toma consciência que está nú. Olha em volta, não vê qualquer das suas peças de roupa no quarto. Deviam estar aqui as boxers, as calças e as meias, pensa. Segue até à porta do quarto olha para a sala e nada, nem vislumbre da camisa ou do casaco que deixara no bengaleiro. Começa a perceber o que se passa e o sorriso que tinha, quando ainda achava tratar-se de uma brincadeira, desvanece-se. Já descrente continua a procurar pelo resto da casa. Nada. Não há Johanna, não há roupas, não há telemóvel. O telefone fixo também desaparecera e a porta está fechada à chave. Olha para kitty que o seguia nas deambulações pela casa e pergunta:

- E agora kitty, o que é que fazemos?


Johanna segue no carro a caminho do armazém. O plano é simples, embora não necessariamente fácil, escolher um local onde consiga observar o armazém sem ser vista. O facto de só ter ido lá de noite não lhe permite ter a noção do que irá constatar em breve:
O armazém está isolado no meio de um descampado. O que é bom, pois não permite que ninguém se aproxime sem ser avistado mas é mau, porque não há local para se esconder para fazer a vigilância que pretende.
Da estrada, a cerca de três quilómetros do armazém, já o consegue avistar. Tomando consciência da impossibilidade de levar por diante o que tinha idealizado, passa pelo armazém e segue enquanto pensa num plano alternativo.


Numa sala pouco iluminada vê-se um vulto sentado no chão. A pouca luz de duas velas trémulas a seu lado faz aparecer e desaparecer sombras ondulantes nas paredes brancas. Parece estar em meditação. Não se ouve um som. Num só movimento ergue-se e fica de pé. Dirige-se à parede à sua frente de onde retira de um suporte uma corrente com cerca de 3 metros de cumprimento e com duas lâminas uma em cada umas das extremidades. Retira do bolso uma esfera que atira ao ar. Com um movimento rápido e preciso com a corrente, secciona com uma das lâminas a esfera em duas metades. Do interior desta surge um conjunto de penas brancas que ficam a pairar. Rodopia colocando assim a corrente num movimento circular que leva as lâminas a irem seccionado todas as penas em dois, quanto atingidas. As metades das penas atingem o chão e a corrente termina o seu bailado. Enrola a corrente e devolve-a ao suporte na parede. De seguida pega numa lança que também se encontrava na parede, noutro suporte. Volta ao centro da sala e inicia um conjunto de movimentos que parecem coreografados. No entanto, esta seria uma dança perigosa para alguém alvo dos movimentos desta lança, que parece que desliza nas suas mãos. Passará a tarde toda em exercícios com todos os muitos utensílios que cobrem a parede daquela sala.


Johanna não teria andado mais de um quilómetro e faz inversão de marcha. Tinha decidido. Se não podia vigiar ia entrar de imediato. Tenta ignorar o instinto que lhe indica que não deve, que é demasiado arriscado. Pára o carro à frente do armazém e sai. Segue em direcção à porta lateral que usara naquela noite. Estranha o facto de não ver as fitas a selar o que era uma cena de um crime mas depois recorda que o caso era agora “CONFIDENCIAL”. A Porta está fechada. Suspira e contorna o edifício até às traseiras à procura de outra entrada. A porta das traseiras também está fechada. Acaba de contornar o edifício constatando que todas as todas as portas estão fechadas. Pondera as suas opções. Será melhor forçar uma das portas ou tentar as janelas? Volta ao carro. Retira da mala um pé de cabra e dirige-se a uma das janelas onde os tapumes parecem mais fragilizados. Sem grande esforço consegue abrir uma fresta por onde passar. Tem de retirar os restos dos vidros para não se cortar mas depois disso entra sem dificuldade. O estado de degradação dos taipais permite alguma visibilidade mas mesmo assim decidiu acender a lanterna. Olha o espaço não encontrando grandes diferenças em relação ao que recordava. Dirige-se para a escada de acesso ao primeiro piso. Logo que pisa o primeiro degrau uma nuvem de fumo surge do tecto. Sente-se desfalecer.


(continua)


FATifer

6 comentários:

  1. Respostas
    1. noname,

      Estou a tentar cumprir ;)

      Beijinhos e bom fim de semana,
      FATifer

      Eliminar
  2. Estamos perante um belo exercício imaginativo, FAT...:) Gostei muito deste episódio, sem diálogos, mas de uma descrição muito interessante e apelativa. Fantástico!

    Se o Martinho quiser seguir Johanna, só se for vestido com um par de calças dela! Excelente estratégia. Muito bom, mesmo.

    Agora fico em grande expectativa. E se Johanna desmaia...?
    Nós, mulheres, somos assim: imprudentes até dizer chega...;)

    Aguardando!!

    Beijinhos de boa noite.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Janita,

      Ainda bem que gostaste. :)

      Beijinhos e bom fim de semana,
      FATifer

      PS – espero dar-vos pelo menos mais um capítulo este fim de semana…

      Eliminar
    2. Está quase a sair… ;)

      Beijinhos e continuação de bom fim de semana,
      FATifer

      Eliminar

É favor comentar se acha que tem algo a acrescentar…
Aviso apenas que me reservo o direito de eliminar qualquer comentário que entenda, porque sim!