quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

XIV

Johanna entra na esquadra e vai directa à sua secretária. Quando não vê Martinho na dele, pergunta onde ele está. Indicam-lhe que está no laboratório forense. Johanna dirige-se para lá.


- Johanna?!

- Olá Martinho.
- Detective McGill.
- Olá Francisco.
- O que é isso?
- É o que resta do telemóvel do Pedro.
- Ah… terá sido isso que despoletou a explosão então…
- Qual explosão?
- Já te explico… vamos para a nossa sala. Consegue fazer alguma coisa disso Francisco?
- Aaaaah…
- … ok … passe à próxima prova que tem para analisar.


Johanna conta a Martinho resumidamente os acontecimentos desde a noite anterior até ali.


- Dizes-me tu que foi ele que te ligou a dizer onde estava.
- Sim.
- E foste a um edifício onde viste um filme da morte dele mas não se via grande coisa.
- Sim.
-… e tiveste de sair a correr porque o prédio ia explodir?
- Sim.
- …estou a ver um filme e não paguei bilhete…


Johanna sorri. Martinho tem razão, há filmes com argumentos mais realistas do que o que ela acabou de contar. Recorda outra frase que sempre ouvira Pedro repetir “a realidade suplanta sempre a ficção”.



Algures numa sala com uma mesa enorme estão cinco homens sentados todos vestidos de preto. Fato, camisa, gravata, meias (e até as boxer) são todas pretas. Aquele que está sentado à cabeceira tem um lenço em vez de gravata mas o lenço também é preto. O homem que está mais longe e do lado esquerdo dele pergunta:

- Porque é que não a matamos e acabamos com o assunto?

O homem que está à direita do que está à cabeceira e mais perto deste responde:

- Matá-la mas tu endoideceste? O simples facto de perguntares pode ser a tua morte em vez da dela!
- Não compreendo tanta deferência… só por ser filha de quem é?
- Só? … quem é que pensas que és?
- Se dependesse de mim estaria morta!


As duas enormes portas, única entrada para esta sala, e opostas à cabeceira ocupada da mesa abrem-se repentinamente. Uma mulher esguia de pele muito branca e longos cabelos negros, entra, caminhando lenta mas decididamente do alto dos seus finíssimos saltos de agulha. Vestida totalmente de negro com um fato que realça o seu corpo de formas perfeitamente torneadas olha na direcção da mesa. Antes que alguém sequer se mexesse lança um pequeno punhal na direcção da cabeça do homem que estava do lado esquerdo e mais longe do que se sentava à cabeceira. A velocidade de reacção deste não lhe permite mais que virar a cabeça o faz com que o punhal, com o belo cabo em ébano, lhe perfure a têmpora esquerda, causando-lhe morte imediata.

- Alguém mais me quer ver morta?

Os restantes ocupantes da mesa não respondem, tentando nem sequer se mexer. Se conseguissem teriam parado de respirar.

- Ponto de situação Yuri.

O homem à cabeceira da mesa levanta a cabeça e tosse como que tentando ganhar tempo para ponderar o que responder.

- Ainda não o localizámos.
- … é assim tão difícil encontrar um homem?
- … um homem não… mas ele não é um homem, é uma sombra.
- Uma sombra? Hum… uma sombra só existe de houver luz…
- …
- … e os restantes assuntos?
- Estão controlados…
- Espero que melhor que este...


Não tendo chegado a alcançar a cabeceira da mesa vira-se e encaminha-se para as ainda abertas portas. Sem se virar para trás diz:

- Nem sequer penses nisso Vassily. Sabes que o teu irmão estava a pedi-las… queres acabar como ele?

O homem que está à esquerda de Yuri interrompe o gesto, que fazia com a mão direita, antes de alcançar a pistola que tem no coldre debaixo do braço esquerdo. Olha Yuri por segundos e retoma o movimento. Antes de o conseguir completar a sua cabeça está em cima da mesa em frente ao corpo inanimado do irmão.

- Obrigada Yuri.

Diz antes de sair da sala sem sequer olhar para trás. Parecia ter visto o golpe instantâneo de Yuri com o seu sabre japonês, que repousa ainda nas costas da cadeira de Vassily, parecendo o prolongamento do braço esquerdo de Yuri ainda estendido. As portas fecham-se atrás dela.



(continua)


FATifer

12 comentários:

  1. Respostas
    1. noname,

      Palpita-me que ainda não viste (leste) nada… ;)

      Beijinho,
      FATifer

      Eliminar
  2. Quando falaste na mulher, por instantes pensei que poderia ser a Johanna, mas logo me lembrei que ela tinha um belo rabo de cavalo loiro e esta uma longa cabeleira negra.

    Mas que grande seita de criminosos, internacional!
    Agora sem filmes nem o telemóvel do Pedro para reunir algumas pistas, vão ter de começar as investigações do zero?
    Vale que o contista anda inspirado... :)

    Isso de cortar cabeças, a golpe de sabre, parece coisa de Jihadistas. Credo!!

    Enquanto espero pela continuação, vou ali transcrever mais um episódio do 'meu' romance. Mulher prevenida...Lol

    Beijinhos, FAT.
    Fico feliz com tanta inspiração e imaginação

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Janita,

      Nada como inventar mais uns quantos personagens para baralhar ainda mais as coisas! ;)

      Ainda bem que estás a apreciar…

      Beijinhos,
      FATifer

      Eliminar
  3. Pá, a cor dos boxers é um pormenor...
    ...desnecessário!

    Um gajo ainda podia imaginar que eles estariam com boxers com florzinhas, ou personagens da warner bross... Tipo o coyote e o Bip, Bip (e não digo isto por ter uns... que não tenho... jamais teria... ouvi falar que existe, pronto, é isso...)

    Assim retiraste-me isso páh! Não se faz!

    LOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL

    Muito bom, rapaz, continua :D

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Meu caro amigo,

      LLLLLLLLLOOOOOOOOOOOLLLLLLLLL

      … ora acho que já avisei que estou um pouco “sádico” neste conto!

      Está a ver que ninguém referia esse pormenor! Com que então tens uns boxers com o coyote e o bip bip (também vivia bem sem saber issso! :P)…

      Obrigado pela verdadeira gargalhada que me proporcionaste! ;)

      Grande abraço,
      FATifer

      Eliminar
    2. Eu?!?
      Não!!!!

      ...mas conheço um gajo que tem...
      ...e uns do Bugs Bunny também...
      ...acho...

      :)

      Eliminar
    3. Pois eu também tenho um amigo que … ;)

      Bem vou ver se acabo o capítulo de hoje! :)

      Grande abraço,
      FATifer

      Eliminar
  4. Fui reler tudo de fio a pavio a ver se descobria onde se encontravam as boxres, pois não é que tive de ler por duas vezes? À terceira, lá estavam elas...escondidinhas entre parêntesis...:)
    Tenho de começar a deter-me mais nesses pormenores de suma importância...Em vez de me preocupar com cabeças decepadas e onde ficaram pousadas, bem como a beleza do cabo dos punhais, que fiquei uma data de tempo a imaginar o cabo em ébano. Bolas!!

    Beijinhos!!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Janita,

      Estás desculpada :)

      Cada um dá importância ao que dá ;)

      Tenho este problema de ser algo picuinhas com o que digo e como… o que torna a minha escrita não muito fácil de apreender à primeira.

      Beijinhos,
      FATifer

      Eliminar
  5. Por acaso os cinco que estão sentados à mesa não são oriundos do hemisfério sul? ;)

    De certeza que as boxer não tinham, pelo menos, uma risquinha branca, nem nas costuras?

    O que interessa mesmo, é que a história está cada vez mais interessante e autor cada vez mais inspirado :)

    Venham lá mais capítulos :)
    Bjs

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. BM,

      Neste momento dir-te-ia que não mas não garanto que não em apeteça dar essa volta às coisas :P

      Eu disse que eram pretas e eram totalmente pretas incluindo a linha com que uma paquistanesa qualquer as terás cosido! ;)

      Pois o próximo capítulo está quase a sair…

      Beijinhos e ainda bem que estás a gostar,
      FATifer

      Eliminar

É favor comentar se acha que tem algo a acrescentar…
Aviso apenas que me reservo o direito de eliminar qualquer comentário que entenda, porque sim!