segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

XVII

Um raio de luar ilumina o gume da lâmina manchada de vermelho que segura paralela à perna. Um pingo de sangue cai da ponta para a poça vermelha no chão. Olha o corpo esquartejado à sua frente, a expressão de horror misturado com dor extrema que retém a sua última vítima parece não ter qualquer efeito nele…
Num movimento rápido sacode do sabre japonês o resto de sangue que ficara na lâmina e embainha-o. Volta-se e desaparece nas sombras.


- Mais um?
- Sim Katerina, mais um.
- Quando é que o apanhamos?
- Não sei…
- … E o corpo?
- Desta vez nem o “tratou” mas nós “limpámos” antes de ser encontrado.
- Yuri… não pode ser… como é que este homem continua a iludir-nos?
- Como sabes não é um homem qualquer…
- Ainda assim é um homem não é?
- Alguns diriam que não…


Johanna está sentada no sofá com kitty no colo a receber festas. Tem um ar pensativo e um olhar distante. Enquanto afaga o dorso felpudo de kitty, está perdida em memórias. A circunstância de ter perdido a possibilidade de investigar o caso da morte de Pedro fá-la recordar:

Era o primeiro dia de trabalho com Pedro. O primeiro caso. Chegara cedo mas Pedro já não estava. Tinha um recado dele na sua secretária: “Vem ter comigo, estou na morada abaixo e traz café”. Dirigira-se para a morada indicada. Encontra Pedro a olhar para o corpo esquartejado de um homem. Faz um esforço para tentar esconder a repulsa que lhe causa a cena, enquanto entrega a Pedro o café que ele tina pedido.

- Bom dia. Obrigado pelo café.
- Bom dia… o que temos aqui?
- Bem, se não sabes o que é acho que não escolhi bem a parceira…
- …
- Não faças essa cara estava a brincar a ver se te descontraias um pouco. Ter de encarar logo de manhã um tipo todo estraçalhado não e propriamente o melhor que poderias pedir no primeiro dia, certo?
- O que é aquilo na costela?
- Ah! Afinal escolhi bem a parceira! Bem observado! Aquilo Johanna, é o o Kanji (ou carácter japonês) para morte. Parece ter sido cravado na costela a sangue frio, o que poderá explicar as feições da vítima.
- Estás a dizer-me que alguém fez aquilo quando ele ainda estava vivo?
- Penso que sim mas o Dr. Fernandes dirá se tenho ou não razão.

Recorda depois as palavras do Dr. Fernandes:

“Imaginemos que a vítima era uma obra de arte, a marca seria a assinatura. Sim foi feita com a vítima ainda viva. Tenho de afirmar que quem fez isto é um artista com uma lâmina!”

Recorda tudo isto pois este caso também lhes tinha sido “roubado” da mesma forma. Tornado “CONFIDENCIAL”. Recorda o desapontamento de Pedro na altura e a sensação com que ficara que ele não tinha desistido de o investigar. Deveria tentar fazer o mesmo com o caso da sua morte? Estava assim absorta nestes pensamentos quando a campainha toca. Assusta-se e kitty salta do seu colo. Levanta-se e vai até à porta. No visor do intercomunicador vê Martinho.

- Martinho o que foi?
- Johanna… desculpa vir sem avisar mas queria falar contigo…
- Ok… sobe.

Carrega no botão que faz disparar o trinco e volta para trás à procura de kitty. Vê-a de volta ao sofá e faz-lhe uma festa na cabeça. Ouve bater à porta. Muda o visor do intercomunicador para a vista do patamar confirmado que se trata de Martinho e abra a porta.

- O que é isto?
(Martinho aponta para um envelope colado na porta do apartamento de Johanna)
- Não sei Martinho…
- Este envelope já estava aqui quando cheguei ao patamar.
- Pois não fui eu que a pus aí, nem estava aí quando entrei.
- Queres que o traga para dentro?
- Hum… espera… vou buscar umas luvas.
- Sempre a Detective, se calhar é apenas uma carta de um admirador.
- Tu vês muitos filmes românticos…
- … e tu não vês nenhuns!

Johanna volta com um para de luvas de latex nas mãos e retira o envelope da porta. Depois faz sinal a Martinho para entrarem. Kitty salta do sofá e fita Martinho com um ar desconfiado.

- … deve estar a sentir o cheiro a cão…
- Talvez… ou então está apenas a recriminar-te teres interrompido a sessão de festas que estava a ser alvo.
- Desculpa kitty!

Joahanna sorri e senta-se à mesa da sala, começado a examinar o envelope que tem nas mãos. Martinho retira o casaco e pendura-o no bengaleiro, ao pé da porta, encaminhando-se de seguida para ao pé dela.

- Senta-te Martinho.
- Posso?
- Claro que sim.
- … não vejo nada de especial. Nenhuma marca… nenhum odor…
- Não vais abrir?
- Pois… será que devo?
- Estava colado na tua porta, deve ser para ti!
- Dedução brilhante, devias tornar-te detective!
- Ah, ah, ah … achas mesmo?



(continua)


FATifer

6 comentários:

  1. Gostei do humor, num caso tão intrincadamente macabro

    Venha o próximo
    Boa noite FAT

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    1. noname,

      Há sempre espaço para o humor ;)

      O próximo está quase a sair! :)

      Beijinho,
      FATifer

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  2. Atéquinfim!

    Já tava a ter ataques de ansiedade por não saber quando saia o capítulo a seguir.

    Continua que tá bom!

    :)

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    1. Meu caro amigo,

      Como não quero vossa excelência a padecer de tais ataques, o próximo capítulo segue dentro de momentos! ;)

      Grande abraço,
      FATifer

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  3. Esse sinal japonês para morte não me estranho!!
    Começo a desconfiar que sei quem é o autor das mortes! :)
    Como vejo já outro episódio, somo e sigo!
    Até já FAT!

    Beijinhos

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    1. Janita,

      Se desconfias… veremos se estás certa… ;)

      Beijinhos,
      FATifer

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