Algures numa
sala escura uma nesga de luz ilumina uma lâmina empunhada por um vulto negro.
Parece que o sabre japonês dança no ar como que levitando em movimentos, ora
rápidos ora mais lentos. Num silêncio que parece absoluto, apenas se houve o
som da lâmina a cortar o ar. Por fim a lâmina desaparece e tudo fica escuro,
mal se distingue o vulto que se move em direcção à porta. Num corredor
iluminado por uma janela alta num dos topos onde a luz passa com alguma
dificuldade pelo reticulado de vidros enegrecidos pelo tempo, distingue-se uma
figura envergando um kimono negro movendo-se pausadamente. Depois de alguns
passos vira-se e faz deslizar uma porta de correr. Entra numa sala pequena e
dirige-se a um suporte de madeira onde deposita, com uma vénia, o sabre que
levava à cintura. Dá dois passos atrás, ajoelha-se e senta-se nos tornozelos,
com o tronco recto, permanecendo imóvel nesta posição.
Johanna e
Martinho voltam à sala de observação contígua à sala de interrogação número dois.
Olham aquele homem através do vidro/espelho.
- O que te
parece?
- Parece-me que
está a dizer a verdade…
- Mais um
punhado de nada!
- Calma Johanna.
Aprende-se sempre alguma coisa.
- Como por
exemplo?
- Estamos a
lidar com alguém, cuidadoso, metódico e com recursos.
- Ah… a partir
da cena do crime no armazém não tinhas já concluído isso?
- Compreendo a
tua frustração mas não sejas assim tão pessimista! Esta entrevista não foi uma
perda de tempo, vais ver…
- Ficarei
contente se te vier a dar razão… por agora acho que podemos deixar ir este
pobre coitado.
Johanna regressa
à secretária. Senta-se, roda a cadeira e fica a olhar para o quadro construído
com os elementos deste caso. As fotos da cena do crime no armazém. O anel. O
padrão geométrico. Levanta-se a e adiciona ao quadro a foto do sem abrigo –
Vítor Andrade - que tinha nas mãos. Fica a olhar para o quadro.
- Chegaram os
resultados da autópsia.
- E então, está
no sistema?
- Não, não foi
encontrado nenhum registo sequer semelhante.
- Como já
esperava…
- Os resultados
das análises toxicológicas também não revelam nada de incomum. Algum álcool no
sague mas nada de drogas ou outras substância estranhas. O conteúdo do estomago
revela que a última refeição terá sido um hamburger, muito mal mastigado por sinal.
- Eles bem dizem
que essas coisas matam-te…
- Um pouco de
humor! Mas que bem!
- … é tudo o que
me resta. Como esperava a equipa forense não encontrou nem um vestígio de
impressão digital ou qualquer outra marca na caixa ou no anel.
- Pois, também
vi isso.
Johana
levanta-se e fica olhar para a foto da vítima desfigurada, que está colocada ao
lado da foto da cena do crime no quadro.
- Achas que é
ele?
- Como disse o
Pedro, podemos nunca ter a certeza.
- Sim sem mais
provas está complicado.
Martinho senta-se
à secretária e faz longin no seu terminal.
- Johanna, vem
ver isto…
- O que foi?
- Tinha deixado
indicação para ser notificado de caso algo “estranho” aparecesse em sistema…
- Sim e?...
- Ora vê, foi
encontrado um corpo em avançado estado de decomposição num beco a três
quarteirões do armazém.
- E o que isso
tem de extraordinário?
- Diz aqui que a vítima, um homem de 42 anos,
só foi participado como desaparecido ontem e que há testemunhas que afirmam
terem-no visto vivo há três dias atrás.
- E está assim
tão mau o corpo?
- Vê a foto…
- Sim, um corpo
não fica a assim num dia ou mesmo em três…
- Deixa ver se
já está disponível o relatório da autópsia…
- Parece que
não… mas fiquei curiosa. Regista-te para seres notificado quando estiver
disponível, para depois analisarmos.
- Feito!
- E quanto ao
nosso caso. Deu algum resultado a pesquisa que te pedi sobre o armazém?
- … nada de
especial, o costume, companhia compra companhia que compra companhia, que abre
falência, que os bens ficam para os bancos… não encontrei nada de suspeito nas
transacções.
- E que tal
irmos almoçar?
- Parece-me bem!
Pedro está
sentado à secretária a ler o relatório da autópsia elaborado pelo Dr.
Fernandes. Recebe um aviso de mensagem no canto do ecrã. Vai ver. O seu semblante
torna-se mais grave à medida que lê. Levanta-se com um ar decidido. Entra na “sala
das armas” e vai escolhendo. Coloca tudo o que não encaixa no fato paramilitar
que já tinha vestido num saco. Desce até ao piso inferior num elevador. Olha os
veículos que tem à disposição, como que indeciso qual escolher. Acaba por optar
pelo Pontiac Trans Am. Entra colocando o saco no banco do pendura. O som do
motor ainda parece ecoar naquele espaço quando os pneus já chiam na primeira
curva.
(continua)
FATifer
Caraças, esperar não está fácil eheheh
ResponderEliminarmas, OK, lá terá que ser
:)
noname,
EliminarCompreendo que custe um bocadinho ficar à espera de mais… e agradeço a compreensão ;)
Beijinho,
FATifer
O mistério adensa-se e o leitor sofre!!...
ResponderEliminarEntão o tal carro que falaste, no post anterior, é o Pontiac Trans Am?
Acho que esses carros nunca circularam por cá, pois não?
Eram 'bólides' lá dos Estates, onde o combustível era (é) ao preço da chuva!
Não sei bem. Acho que só ouvi falar deles nos livros policiais!! ;)
Beijinhos!
PS: O Pedro também faz parte desta equipa de investigação?
Janita,
EliminarConfesso que estou a ser um pouco mauzinho mas é uma história de suspense ;)
O carro que refiro no texto anterior seria o carro de serviço do Pedro e da Johanna, pelo que não seria o Trans Am. Quando escrevia imaginei a versão de 72 mas este modelo é icónico numa versão posterior em que foi usado na série que por cá se chamava “o Justiceiro”. Sim era o kit ;)
Beijinhos,
FATifer
PS – o próximo texto responderá à tua dúvida… acho eu. :)
Pá, um Trans Am?
ResponderEliminarts ts...
Vê-se mesmo que és gajo de motas!
:)
Meu amigo,
EliminarNão se pode agradar a todos… (mais um bocadinho dizias que o Pedro bem que mereceu morrer por ter escolhido este carro! :P)
;)
Abraço,
FATifer