Johanna está sentada no sofá com um copo de
Whiskey nas mãos. A kitty deitada a seu lado olha-a com um ar sonolento. Bebe
um golo e suspira. Só o corpo está ali, a mente está anos atrás…
-
Johanna a minha mãe morreu, nada me prende aqui…
- …
então e eu?
-
Tu?...
- Sim
eu… não entro nessa equação?
- …
não…
-
Pedro!...
- …
adeus Johanna.
Johanna
olha-o enquanto Pedro se afasta. O carro arranca e apenas o som da chuva que
martiriza o pano do chapéu se ouve. No fundo sabia que este dia chegaria, esta
vida era demasiado “normal” para ele. Não devia ter-se deixado encantar por
aquele homem. Desde de que o vira que os seus instintos a tinham avisado disso e
mesmo assim não resistira. Havia algo nele que o tornava irresistível embora
não soubesse dizer o quê, se lhe perguntassem.
O telefone toca. Não faz menção de atender.
O telefone deixa de tocar. Não se interessa em ver quem era. Continua absorvida
nas memórias. Bebe mais um golo.
-
Johanna, o que se passa?
-
Pedro…
-
Sim, o que se passa?
-
…nada mas…
- Johanna, deite-te este número em caso de
necessidade. Não me faças arrepender-me de o ter feito.
-
Desculpa… queria ouvir a tua voz…
- Johanna,
pensei que tinha deixado bem claro que entre nós apenas há a dívida de gratidão
por teres salvo a minha mãe. Honrarei a palavra dada, por isso te dei este
número… não foi para ouvires a minha voz.
- …
- …
não chores… mas tens de perceber que na minha vida não há lugar para romance.
Cuida-te!
Bebe o resto do whiskey de um trago. O copo
escorrega por entre as suas mãos e cai no tapete enquanto as lágrimas escorrem
por suas faces.
Move-se como uma
sombra na noite, parece que desliza… numa esquina um homem bate numa mulher.
Ela encolhe-se e protege a cara à espera do próximo golpe que parece tardar
mais do que esperava. A medo baixa um braço e com surpresa constata que o
agressor já não está à frente dela. Olha em volta tentando perceber como pode
ter desaparecido e para onde…
Num beco escuro
não muito longe o homem que há momentos tinha os olhos raiados de sangue
enquanto batia selvaticamente na mulher, que ainda não percebeu como ele
desapareceu, agora tem o olhar parado. Observa um vulto negro que tem à frente
sem perceber onde está e como foi ali parar. Numa sequência de movimentos quase
imperceptível para este homem, o vulto de preto envia quatro kunai (espécie de
punhais ninja) que lhe acertam, dois nos ombros e dois na cintura, fixando-o
firmemente à porta de madeira maciça atrás de si. A dor que sente é grande mas
o medo é maior pelo que não chega a gritar. O vulto de negro aplica, num
movimento rápido, um golpe na traqueia do homem. Só se apercebe que deixou de
conseguir falar quando, instantes depois, se vê impossibilitado de gritar, como
pretendia, em resposta ao gesto que o vulto à sua frente acabara de fazer –
abanou o indicador da mão direita para a direita e para a esquerda e terminou
com o polegar para baixo.
A última coisa
que sente é o golpe na jugular feito pelo wakizashi (sabre japonês de pequenas
dimensões) empunhado por aquele vulto, que o fez acabar de se esvair em sangue…
O vulto de preto
recolhe os kunai, lança um spray sobre o corpo e desaparece nas sombras.
Johanna chega à
secretária e tem um bilhete de Martinho:
“O Dr. Fernandes
chamou-nos, quando chegares vai lá ter ;)“
Volta vestir o
casaco que despira e dirige-se para a porta.
- Bom dia Dr.
Fernandes. Martinho.
- Bom dia Miss
McGill.
- Johanna.
- E então o que
nos pode dizer Dr. Fernandes?
- … bem, como
dizia aqui ao detective Fonseca. Para começar posso dizer que este desgraçado
não parece ter ficado com um único osso inteiro da sova que terá levado.
- Encontrou
marcas que indiquem se foi empregue alguma arma?
- Não é fácil
afirmar. A maioria das marcas aparentam ter sido provocadas com as mãos. Uma ou
outra marca poderia ter sido causada por um bastão ou uma soqueira. A marca mais
curiosa que encontrei é um padrão geométrico na face esquerda. Tenho a sensação
de já o ter visto antes mas a minha memória já não é o que era.
- É este?
(Johanna retirara um foto do bolso e mostrava-a ao Dr. Fernandes)
- Esse mesmo!
- E que mais? As
mãos e os pés, como foram cortados?
- Mãos e pés
foram amputados post-mortem recorrendo a uma lâmina afiada. Não tendo ambos os
lados é difícil especificar qual o objecto empregue mas diria que nos quatro
casos a amputação foi feita num só golpe.
- Causa da morte?
- O golpe no
nariz que o afundou crânio dentro.
- Conseguiu identifica-lo?
- Infelizmente
ainda não. Sem as mais e os dentes que foram todos removidos resta-nos esperar
pelo teste de ADN, para ver se por acaso está no sitema.
- Mais alguma
coisa?
- Apenas mencionar
que a marca com o padrão geométrico, que parecia já estar à espera que
encontrasse, terá sido feita post-mortem como as aputações. Os resultados das
análises toxicológicas estarão no meu relatório. O teste de ADN demorará mais
uma semana.
- Ok, obrigada
Dr. Fernandes.
- Obrigado Dr.
Fernandes.
- Detectives…
(continua)
FATifer
Já há espera do próximo...
ResponderEliminar...e o domingo está propicio para a escrita :)
Bjs
BM
BM,
EliminarO próximo já está meio “amanhado” mas esta tarde não me parece que escreva grande coisa… terás de ter paciência (não se pode apressar o génio!) ;)
Beijinhos e bom resto de Domingo,
FATifer
Caramba!! Estou sem palavras!
ResponderEliminarIsto ultrapassa todas as minhas expectativas, FAT!
Muita emoção. Muita violência...Sentimental, como sou, já fiquei imensamente triste com a atitude fria e distante do Pedro em relação à tentativa de aproximação da Joana. ( tu e a tua paixão pela Língua de Shakespeare :) )
Sustive a respiração enquanto lia a passagem do vulto de negro que, qual justiceiro, punia sem dó nem piedade, o agressor da mulher.
Vou aguardar com calma e talvez com a toma de um calmante!
Tens razão na resposta dada à comentadora anterior: Os génios não podem ser apressados. Há que deixar a inspiração fluir...E a tua é um prodígio vertiginoso! Ufa!
Bom resto de Domingo! :)
Janita,
EliminarNão vou esconder que o teu comentário me deixa com um sorriso de orelha a orelha!
Fico muito contente de conseguir surpreender-te. A referência ao “génio” era a brincar… acho que até tenho algum jeito para escrever mas acima de tudo faço-o porque me dá prazer. Se quem lê também gosta mais contente fico. :)
Beijinhos e bom resto de Domingo para ti também,
FATifer
Lido, primeiro a correr, depois já mais caminha
ResponderEliminarvenha o próximo, ó (eu)génio
eheheh
noname,
Eliminar… o próximo está “in process”…
“(eu)génio” parece-me bem! :) … se não tivesse nick adoptava este ;)
(sempre é melhor que ambrósio) :)
Beijinho e boa semana,
FATifer
Lidos 2 de rahjada e à espera de mais...
ResponderEliminar:)
Meu amigo,
EliminarÉ curioso ver-te no papel de leitor a “pedir mais”, para variar ;)
É já a seguir!
Grande abraço,
FATifer
Original, o nome da gata...
ResponderEliminarUm comentário de sua excelência o Rafeiro!
EliminarSe a única “crítica” que tens é ao nome da gata, quer dizer que isto até está a correr bem (sim, porque não és pessoa de deixar de dizer o que pensas! :P )
:)
Grande abraço,
FATifer
Olá, FAT.
ResponderEliminarDeves de estar agarrado à escrita!:)
Vim até ao teu cantinho e cabo de 'descobrir' que tiveste a feliz ideia de colocar no topo da barra lateral, os contos que já publicaste.
Óptimo! Assim, poderemos aceder facilmente a elas. Já comecei a ler...:)
Boa semana e boa escrita. :)
Beijinhos
Janita,
EliminarColoquei esse link para mais fácil acesso sim mas em particular a esta história - para quem chegue a meio. Já te enviei os outros em pdf, por ser mais cómodo de ler, mas se preferes ler assim no blog, dá uso aos links! ;)
Beijinhos,
FATifer
PS – hoje ainda não escrevi nada mas já vou publicar o próximo que já estava escrito ontem! ;)