segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

IX

Depois do almoço voltam ao escritório os dois e sentam-se cada um à sua secretária.

- Johanna…
- Sim Martinho…
- O teu “amigo” matou quatro homens antes de desaparecer, não foi?
- Sim.
- E desapareceu?
- Sim…. e não. Um mês depois do último crime começaram os telefonemas.
- Pois mas nunca conseguiste ligar uma coisa à outra.
- Martinho pareces o Pedro a falar! Mas sim, não temos qualquer prova concreta que quem fazia os telefonemas fosse o autor dos crimes.
- Não tem lógica…
- O que é que “não tem lógica”, Martinho?
- Ele mata quatro homens, pelo menos três dos quais apenas com os próprios punhos, depois começa a telefonar-te durante 6 meses e depois desaparece. E agora aparece morto daquela forma? Não tem lógica…
- Martinho… há sempre uma lógica… neste caso ainda não percebemos qual é.
- Talvez porque não tem lógica…
- Sim, é estranho. Pouco plausível até… mas é o que temos.

Martinho suspira. Recosta-se na cadeira e olha para o quadro deste caso. Johanna olha-o com um ar quase maternal e deixa escapar um leve sorriso.
O resto da tarde decorre lentamente sem novidades.


Johanna está recostada no sofá. A voz de Billie Holiday em “I’m a Fool to Want You” enche a sala. Olha para dentro do copo que tem nas mãos enquanto faz balouçar o líquido com movimentos lentos mas ritmados. Quando se preparava para beber o último gole do pouco bourbon que tinha colocado naquele copo, o telemóvel toca. Aquele toque. Larga o copo e agarra o telemóvel, atendendo a chamada o mais depressa que consegue.
- Pedro?!
- … Johanna…
- Pedro que tens? O que se passa?
- … Johanna… ouve… vê a mensagem… as coordenadas GPS… vem aqui ter… lembra-te… bolso direito…
- Pedro! Que conversa é essa?
- … Adeus Johanna… não consegui, desculpa-me…
- Pedro! Pedro!...

Johanna ouve o telemóvel do outro lado da chamada a cair e fica a ouvir um respirar cada vez mais ténue até que só silencio se ouve. Corre para o quarto veste-se apressadamente. Pega nas chaves do carro e no telemóvel e sai a correr deixando a kitty a olhar para porta, à espera da sua festa na cabeça. Já no carro programa as coordenadas GPS da mensagem de Pedro e espera por direcções. Calça as luvas de cabedal que gosta de usar quando conduz. “Isto é no meio do nada!”, exclama enquanto a arranca a toda a velocidade. A voz mecânica do GPS vai-lhe dando instruções que segue, conduzindo “como uma doida”. Por fim chega ao destino, um armazém abandonado no meio do nada a cento e cinquenta quilómetros dos arredores da cidade. Sai do carro. Saca da pistola que tinha ao cinto e da lanterna. Procura uma entrada. Ao longe uma porta entreaberta bate impelida pela brisa noturna. Dirige-se à porta e entra. A vontade dela é gritar por Pedro mas consegue conter-se. Avança cautelosamente, inspecionando o espaço. O armazém parece estar abandonado há muito. Para qualquer lado que aponte a lanterna só vê lixo e pó. Vai avançando encontra umas escadas. Sobe ao primeiro andar. A sala que encontra é ampla no centro parece ver uma luz ténue. Aponta a lanterna para ela e vê Pedro deitado no chão. Corre para ele. Quando o alcança, sente-o frio. Mesmo assim procura no pescoço um sinal de pulsação. Vê os seus olhos abertos. A cara sem expressão. As lágrimas começam a dificultar-lhe a visão. Limpa-as com as costas da mão esquerda e observa-o. O corpo está cheio de pequenos cortes e no meio do peito está um golpe profundo. Olha em volta. As paredes estão cravejadas de buracos de bala. Olha-o de novo e lembra-se. Abre o bolso que ele tem no lado direito do colete e encontra um papel ensanguentado. Nele escrito, com uma letra irregular, está uma morada seguida de um conjunto de instruções e uma palavra mais abaixo. Fica a olhar este papel por instantes. Ainda ajoelhada a seu lado pega no telemóvel e liga.

- Martinho?
- …Hã… Johanna?
- Desculpa ligar a esta hora. Vou enviar-te as coordenadas GPS de uma localização. Dirige-te para ela com uma equipa forense e é melhor trazeres uma equipa táctica, pelo seguro. Vou seguir uma pista depois volto a ligar-te.


Desligou o telefone sem esperar para ouvir a resposta de Martinho. Foi às mensagens e reenviou a mensagem de Pedro com as coordenadas GPS daquele local. Voltou a olhar para Pedro. A vontade era beijá-lo, dizer adeus… mas o espírito de detective fala mais alto, não deve contaminar mais a cena do crime. Levanta-se. Olha-o por uma última vez. Uma última lágrima escorre pela face esquerda. A sua expressão muda. Dirige-se à escada para descer em direcção ao carro. Destino, a morada escrita naquele papel ensanguentado.


(continua)

FATifer

6 comentários:

  1. E eu a pensar que o vingador era mesmo o Pedro, e que no fim o cavalo casava com a moça eheheheh

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    1. Noname,

      Esta história não vai ser igual às outras… ;)

      Beijinhos,
      FATifer

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  2. O que eu teria gostado se, no final do bilhete, o Pedro tivesse escrito a palavra mágica: "Amo-te".
    O que é queres? Sou e serei sempre uma romântica incurável...:)
    Pobre Johana! :(

    Beijinhos pesarosos!!

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    1. Janita,

      Não esquecendo o que disse ali em cima à noname, não desesperes. Ainda estamos no começo… mas claro que nada posso prometer nada… afinal, isto está a ser escrito ao sabor da inspiração do momento. ;)

      Beijinhos inspirados,
      FATifer

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    2. E, pelos vistos, a inspiração deu-te para eliminares logo o homem que a detective gostava. Já não se pode confiar em ninguém...:))

      Beijinhos!!

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    3. :)

      Pois não, já viste?! ;)

      Beijinhos traiçoeiros,
      FATifer

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