Johanna está
sentada à secretária. Embora pareça olhar para o monitor, o seu olhar vago e
distante indicia que não está ali e agora.
- Johanna… acabei de receber o relatório preliminar da
perícia forense… nada de diferente a assinalar…
- …ele vai fazer um erro mais cedo ou mais tarde… ninguém
é perfeito…
- …ele… assumes… nem isso sabemos!
- Pedro, aquelas mãos, aquela voz… não podia ser uma
mulher!
- Assumes que quem te atacou é o autor destes crimes.
Percebo mas não temos provas que o sustentem.
- Sim Pedro, não temos provas mas eu sinto-o. Chama-se um
palpite e os meus palpites tendem a estar correctos, com tão bem sabes.
- … algum palpite quanto ao paradeiro do homem?
Johanna atira uma borracha na direcção de Pedro que sorri
enquanto a apanha com a mão que tinha livre, continuando a ler as folhas que
tinha na outra.
- Ora recapitulemos, temos três vítimas do sexo masculino
de idades compreendidas entre os vinte e os cinquenta e sete anos. Dois
caucasianos e um negro. Não encontrámos nenhuma ligação clara entre eles à
excepção de serem propensos a actos de violência.
- Certo…
- Johanna chegou
isso para ti.
- Obrigada
Martinho.
Johanna olha
para um embrulho que Martinho colocara na secretária à sua frente. É uma caixa
pequena, cinzenta com o lacinho dourado. Abre a caixa. Afasta o papel de
celofane e descobre um anel. Tem de se conter para não o agarrar de imediato.
Abra a primeira gaveta da secretária retira um par de luvas que calça. Depois
pega finalmente no anel e inspeciona-o. Tem um aspecto tosco e batido. Umas
nervuras de lado juntam-se no disco central. Olha para as marcas nesse disco,
distingue um padrão geométrico que identifica de imediato. Mesmo assim
pressiona o anel contra o bloco de folhas que tinha na secretária. Com um lápis
sombreia a marca deixada pelo anel. Pega no bloco com as duas mãos e fica a observar.
Na sua face um ar de confirmação.
Martinho olha-a
só desviando a sua atenção para o bloco quanto ela o pousa junto ao anel na
secretária.
- O embrulho
vinha numa caixa de transportadora endereçado a ti e sem remetente.
Questionámos a transportadora que indicou que o homem que o deixou pagou extra
ao funcionário para que o envio fosse feito assim. A descrição do homem em
causa não ajuda muito: aparentava ser um sem abrigo com cerca um metro e
oitenta, moreno, barba, óculos escuros, boné, calças de ganga e blusão verde
tropa. A câmara de vídeo da agência estava avariada na altura da entrega pelo
que não temos imagens. Estamos a tentar verificar se há alguma câmara de
trânsito ou de um multibanco na área que possa ter captado algo.
- Muito bem
Martinho, excelente trabalho. Entrega a caixa e o anel à equipa forense para
análise. Embora suspeite que não vão encontrar nada de útil.
- Ok.
Johanna coloca o
anel dentro da caixa, esta dentro de um saco de prova e entrega-o a Martinho.
Algures na
cidade uma sombra entra num prédio com um ar abandonado. Depois de percorrer um
corredor na penumbra, chega a uma parede que se abre misteriosamente à sua
frente e entra numa sala ampla mas também pouco iluminada. Descalça as botas,
retira o longo casaco preto de pele que pendura num cabide e dirige-se a um
suporte onde deposita, com uma vénia, um sabre japonês. Entra noutra divisão de
onde sai momentos depois, já sem as calças de couro e a camisa pretas. Enverga
um kimono yukata azul escuro, com um padrão que quase não se distingue.
Dirige-se à cozinha e pega num frasco. Retira três colheres cheias, uma após a
outra, de grãos de café para um moinho manual. Procede à moagem do café por
recurso a movimentos de cadência constante. Abra a gaveta e retira o pó com uma
colher de madeira para uma espécie de funil onde colocara um filtro. A chaleira
apita, pega nela vertendo de seguida o conteúdo de água no filtro. Um líquido
escuro começa a cair numa pequena taça colocada por baixo do funil com o filtro.
Todos os movimentos foram realizados de uma forma elegante como se de um ritual
se tratasse…
Com a taça nas
mãos senta-se no chão em frente a uma mesa rasa, tem a mão esquerda debaixo da
taça e a outra a envolvê-la do lado direito, mantendo esta forma de a agarrar
leva-a à boca e bebe um gole de café fechando os olhos.
(continua)
FATifer
Isto promete, um justiceiro todo cheio de boas maneiras
ResponderEliminarImpossível resistir a tanto charme
:))
Cativou-te noname?... ainda bem! Espero continuar a estar à altura… :)
EliminarBeijinho,
FATifer
As boas maneiras também se podem confundir com frieza, com rituais sem qualquer relação com gentileza e bons modos. Esperemos para ver se há alguma relação entre o homem do sabre japonês e as três mortes.
ResponderEliminarAguardo e vou saboreando sem pressas...:)
Beijinhos, esperando que o autor dos crimes não fique impune. :)
Janita,
EliminarAcredit aque neste momento nem eu sei responder a essa tua “inquietação” (se haverá ou não relação)… como disseste, deixa ver como flui ;)
Beijinhos,
FATifer
Tás-lhe a dar, rapaz!
ResponderEliminarContinua...
:)
Meu caro,
Eliminar“I’m just warming up” :) ….
Como te disse, está a deixar-se escrever e palpita-me que ainda vou dar muitas voltas com esta história! ;)
Ainda bem que estás a gostar.
Grande abraço,
FATifer