A noite estava escura e chuvosa, Pedro sobe a gola da
gabardine para tentar proteger-se do vento enquanto inclina o chapéu para que
ela não se molhe muito. Debruçada sobre o corpo inanimado de um homem
brutalmente espancado tenta ver uma marca na sua face.
- há um padrão geométrico, talvez deixado por um anel?
- Sim é provável Johanna mas deixa que o médico legista
depois analisa melhor e já tiraram fotos…
- Sim vamos, está desagradável, não está?
- Está? Diria que está uma bela noite…
Sorriu correspondendo ao tom irónico de Pedro, sempre
apreciara essa sua qualidade de concordar discordando.
Viram-se e encaminham-se para o carro.
- Para deixar um homem naquele estado é preciso ser uma
besta.
- … Depende do que entendes como “besta” Johanna… não sei
se o agressor será sequer maior que a vítima… diria é que sabe muito bem como e
onde bater e até que terá prazer em infligir dor.
- Porque dizes isso?
- … há partes do corpo que só atinges por prazer ou
necessidade e não me parece que tivesse necessidade.
Pedro abre a porta para Johanna entrar, dá a volta ao
carro fecha o chapéu de chuva e entra no lugar do condutor.
- Levo-te a casa?
- Se não te importas…
O carro arranca. O caminho é feito em silêncio, não há
muito a comentar, é a terceira vítima mortal por espancamento no espaço de uma
semana. Parece haver alguém muito zangado a vaguear pela cidade.
Pedro deixa-a à porta de casa e segue, dá dois passos de
corrida para fugir à chuva e assim que acaba de abrir a porta do prédio, ouve
uma respiração pesada atrás de si. Sem que pudesse reagir sente duas mãos
fortes agarrá-la. Num instante uma está a tapar-lhe a boca agarra-a impedindo-a
de se mexer. Ouve uma voz grave ao seu ouvido:
- … vocês não me apanharão mas eu posso apanhar-te quando
quiser….
… E é empurrada para dentro do prédio com uma violência
tal que não consegue evitar a queda. Levanta-se de imediato e abre a porta mas
nada vê além de chuva e um carro que aparece ao início da rua. Volta a entrar e
fecha a porta atrás de si encostando-se a ela enquanto tenta recuperar o
fôlego. Ainda ofegante liga a Pedro e ouve o toque do outro lado da porta. Com
a precipitação nem reconhecera o carro que entrara na rua, abre a porta.
- Estás aqui?
- Sim… voltei atrás pareceu-me ver algo… estás a tremer!
- …
- O que se passou? Conta-me!
Após um breve relato Johanna aceita o abraço de Pedro que
a tenta confortar.
- Queres que suba?
- Não… estou bem… vai para casa que a tua mãe deve estar
preocupada.
- … tens a certeza?
- Sim vai…
Pedro mesmo contrariado obedece e deixa-a no átrio de
entrada do prédio já menos ofegante e aparentemente mais calma. Respira fundo e
dirige-se para o elevador. Carrega no botão de chamada e fica a olhar para o
mostrador, vendo os números decrescerem até ao zero. Abre a porta e entra.
Carrega no botão do seu andar fecha os olhos e recorda tentando perceber o que acabou
de se passar. Aquela voz ainda ecoa na sua mente. A forma pausada, confiante,
desafiadora até, como falara aquele homem de mãos poderosas deixara-a mais
perturbada do que quereria admitir. Entra em casa. Acende a luz e olha-se ao
espelho que tem ao lado da porta. Procura-se como se tivesse necessidade de se
encontrar.
Perdida nas
memória acabara por adormecer no sofá onde acorda horas depois.
(continua)
FATifer
Isto promete !...
ResponderEliminarEspero não desapontar Ricardo…
EliminarAbraço,
FATifer
Ora bem, o II já lido, aguardo com expectativa o III
ResponderEliminar:))
noname,
EliminarO III está na forja… ;)
Beijinho,
FATifer
Eu aguardo sossegadita
Eliminar:))
:)
EliminarOlá, FATifer.
ResponderEliminarIsto assim, lido pouco a pouco e retirado no momento em que estou mais empolgada, é como se me tirasses o rebuçado da boca , que é como quem diz, o livro das mãos!... :(
Mas, como o que tem de ser tem muita força, lá vou ter de esperar até ao próximo capítulo.
Bolas! :)
Beijinhos e força nessa 'caneta'!
Janita
Janita,
EliminarCompreendo a frustração… mas…
Beijinhos,
FATifer
No fundo não há propriamente um sentimento de frustração.
EliminarSei que não és uma máquina de fabricar contos nem nenhum escritor o é!...
Há livros que demoram meses ou anos a ser escritos! E este género de escrita requer muita habilidade mental...Criar personagens que possam levar o leitor a levantar suspeitas sobre o autor dos crimes, etc! :)
Espero que não te tenhas melindrado, porque eu estava a tentar fazer um pouco de humor.
Sei que não tenho muito jeito para isso, mas...
Depois...eu sei esperar! :)
Beijinhos
Não há qualquer melindre… :)
EliminarComo disse, decidi publicar o início como forma de me “forçar“ a escrever esta história que tinha há muito começada.
A “frustração” será mais minha de ainda não vos poder oferecer mais desenvolvimentos mas, como dizes, demora o seu tempo… ;)
Beijinhos,
FATifer
Caríssimo,
ResponderEliminarBom Ano.
Muito fixe. É bom ver-te dedicado a uma história. Se precisares de alguma coisa, diz...
E fico a aguardar continuação, porque tou curioso.
Fortíssimo abraço
:)
Meu caro amigo,
EliminarUm bom ano para ti também!
Tu sabes o que é ter uma história dentro de ti a querer ser escrita. Esta está finalmente a deixar-se escrever e até eu estou curioso onde isto vai parar… ;)
É bom saber que te agradou até agora.
Grande abraço,
FATifer