terça-feira, 29 de março de 2016

XXX


Katerina e Yuri conhecem os obstáculos e a melhor forma de os ultrapassar, Johanna esforça-se para os acompanhar.

- Loirinha, então aguentas-te?
- Até ver…
- Katerina concentra-te, pode haver surpresas.

Yuri acabara avisar e um dardo atravessa o corredor onde iam, mesmo à frente deles.

- De onde veio aquilo?
- Concentra-te, não te esqueças que ele sabe mais deste edifício do que nós.

Continuam a ultrapassar os obstáculos com maior ou menor dificuldade. Chegam ao fim das provas com pouco mais que uns arranhões, a maior parte dos quais sofridos por Johanna. Katerina permanece ilesa, em boa medida devido ao fato que enverga.


- Muito bem… aqui nos tem!
- …

O vulto de negro não responde nem mostra qualquer reacção, permanecendo sentado. Katerina dá dois passos em frente. Ainda estará a uns cinco passos de distância. Yuri e Johanna permanecem à entrada do tatami.

- Então não diz nada? Tanta insistência para nos ter aqui…
- …
- Já chega! Não vou permitir que continue a fazer pouco de mim na minha casa!!
- Katerina! Não!!

Katerina dirige-se à parede do lado direito, pega no sabre japonês que está a meio de um grupo de três pendurado num suporte levemente ornamentado. Desembainha-o e corre em direcção ao centro do tatami. Estando a dois passos do centro, disfere um golpe com o sabre na direcção do vulto que permanecera imóvel até ali. Instantaneamente Katerina vê-se dois passos além do centro do tatami, despojada do sabre japonês e de costas para o inimigo. Vira-se o mais rápido que consegue. O vulto continua na mesma posição. Parece não se ter mexido, no entanto o sabre japonês repousa à sua frente.

- Mas o que vem a ser isto?!

Katerina faz menção de recuperar o sabre japonês e ouve uma voz grave numa entoação pausada:

- Se o fizeres nem esse teu fato tem salva, desta vez.

Katerina aborta o movimento e olha primeiro aquele homem sentado à sua frente e depois fita Yuri que lhe devolve um olhar de repreensão.

- Shinigami… se chegou a nossa hora porquê tanto suspense?

O homem de negro eleva-se e num gesto fluído arremessa um kunai na direcção da cabeça de Yuri acertando-lhe entre os olhos. O corpo de Yuri cai inanimado. Johanna dá um pequeno passo atrás e olha-o no chão depois olha para aquele homem todo de negro e tenta disfarçar o facto de estar a tremer.

- Não!!!

Katerina gritara mas desaparecera de vista.

- Conseguiram que o fato resultasse mas se pensas que é isso que te salva… não preciso de te ver… eu disse que não tentasses!

O vulto de negro estendo o braço direito num gesto rápido e poderoso e mantém-no esticado. Aparenta estar a segurar algo mas Johanna nada vê. Mexe a sua mão esquerda que aparenta estar a ser contrariada no movimento. Faz um gesto brusca para baixo e, de repente, aparece Katerina. É ela que ele segura pelo pescoço. Tem o fato rasgado à frente e aparenta estar a ficar com falta de ar.

- Pare, por favor. Já chega…
- Paro? Esta é igual à mãe não conhece outra linguagem… achas que a mãe dela ouviu as suplicas da tua mãe?
- Não sei mas vai matá-la pelo que a mãe dela fez?
- Porque és minha neta e só por isso eu vou-te explicar. Não, não vou matá-la pelo que a mãe dela fez à tua, embora se soubesses o que foi até tu terias vontade de o fazer. Vou matá-la por tudo o que ela fez neste mundo. Vou matá-la porque é filha do pai dela, infelizmente teu também. Vou matá-la porque me apetece…

Num gesto desesperado Katerina tenta alcançar, com a mão direita, uma lâmina que tem escondida no antebraço esquerdo, enquanto a mão esquerda tenta contrariar a força daquela mão que a sufoca.

- Queres isto? Então toma!

O homem de negro retirara a lâmina do antebraço de Katerina cravara-a no seu peito e lançara–la em direcção à parede com uma violência tal que ficara espetada numa lança.

- Acabou?...
- Não minha neta, faltas tu…
- Eu? Mas porquê?
- Porque sim… porque és filha do teu pai e não posso permitir que os genes dele perdurem.
- Yuri tinha razão…
- Não faças essa cara… Não te vou conseguir explicar, nem sei se quero. Sou assim, porque posso. Farei o que faço até que alguém me impeça. E só há uma maneira de me impedir, fazer-me a mim o que eu faço. Não há um propósito maior, uma ideologia. Apenas ajo consoante o que me parece bem, só para não dizer logo: porque me apetece. Monstro? Para alguns talvez. Para outros apenas livre. Só porque aceitaste todas as correntes que te impuseram, deverias conceber que poderá haver quem não esteja disposto a cumprir essas regras todas, mesmo que as aches “obrigatórias”. Faço o que muitos apenas pensam…


Fim



FATifer

14 comentários:

  1. Ainda estou em transe!
    Fica a esperança que o todo poderoso que só fazia o que bem lhe apetecia, inclusivé matar, tivesse poupado a vida de Johanna!
    Quando me disserem que só fazem o que lhes apetece, sem olhar a meios para alcançar os fins, vou pensar no teu conto...

    Grande e penosa tarefa a tua, FAT. Ou talvez não!
    Para a próxima vez que pensares escrever um conto, pensa em coisas que alegrem os momentos de quem te estiver a ler, pode ser? ;)

    Beijinhos e dorme bem!

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    1. Janita,

      Correndo o risco de me repetir, relembro o aviso que fiz desde o início que este conto não seria como os outros. Suspeitava que não seria do teu agrado o final (poderia dizer quase o conto todo) mas este era para ser assim… (deixei a esperança, mesmo que ténue, que Johanna tenha sido poupada… cada um imaginará o que entender).

      Lamento não te ter deixado satisfeita… ficará para um próxima quem sabe?...

      Beijinhos e obrigado por teres acompanhado e comentado,
      FATifer

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    2. Não FAT, estás enganado! O conto não me deixou insatisfeita. Admirei bastante toda a trama no decorrer dos vários capítulos.
      Também sabia não ser este conto igual ou ao estilo dos outros que já li teus. Isso ficou bem visível logo no início.

      Tal como tu, também gosto de dizer o que penso e não vou ser hipócrita.
      O final, em que a personagem mostrou uma crueldade imensa, sobretudo nas palavras que dirigiu à pessoa que menos as merecia ouvir e ele próprio admitiu, ultrapassou tudo o que podia esperar.
      Só porque ela era filha de quem era? E que culpa ela tinha? Fez-me lembrar a desculpa do lobo para comer o cordeiro. Conheces a fábula?

      De resto, tudo bem, foi diferente, foi o que tu quiseste escrever, gosta-se ou não, isto é pura ficção. Mas saiu da tua mente...

      Não fiques a pensar coisas que não existem e não me agradeças por ter lido e comentado. Fi-lo com gosto e por prazer. :)

      Beijinhos, FAT!

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    3. Como já te disse aprecio a forma sincera como dizes o que pensas. Não posso deixar de estar agradecido de ter o privilégio de ter leitores como tu e outros que leram e se deram ao trabalho de ir comentando. Escrevo porque gosto mas sabe bem ter a opinião de quem lê.

      ;)

      Talvez dia 10, se se proporcionar, possamos trocar mais algumas impressões sobre este conto… o que quis transmitir e que retiraste dele…

      Beijinhos,
      FATifer

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    4. Vieste ao encontro do meu pensamento, FATifer!
      Sei que teremos oportunidade de trocar impressões acerca deste conto.
      Se mais não for, para te dizer da ilação que tirei destas tuas palavras- colocadas na boca do homem de negro - :

      "Só porque aceitaste todas as correntes que te impuseram, deverias conceber que poderá haver quem não esteja disposto a cumprir essas regras todas, mesmo que as aches “obrigatórias”. Faço o que muitos apenas pensam…"

      Eu acrescentaria..."E não têm coragem para fazer"...

      Claro que a ideia de morticínios está abolida, dessa coragem...

      Obrigada, FAT, um beijinho! :)

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    5. … falaremos com certeza. O que tenho a comentar em relação ao teu acrescento, digo-to pessoalmente ;)

      Beijinhos,
      FATifer

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  2. Não era o fim que esperava, talvez um água com açúcar mas, na verdade, o que acabo de ler, existe. Há muito por aí, que faz apenas e só o que lhe apetece e, nunca o assumindo, tantas vezes escondendo-se atrás de uma qualquer ideologia que nem segue.

    Bom dia FAT
    :)

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    1. noname,

      Como disse à Janita, eu avisei que este era diferente. Limitei-me a contar uma história… cada um retirará dela o que entender. Para mim essa é uma das belezas da escrita por vezes os leitores encontram mensagens que quem escreve nem tinha notado… ;)

      Beijinhos e obrigado por teres acompanhado e comentado,
      FATifer

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    2. Esse já passou FAT, venha o próximo

      :)

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    3. … o próximo virá um dia… como este veio quando me assaltar a vontade de contar outra história.

      ;)

      Beijinho,
      FATifer
      PS – de momento tenho outra ideia me que me vai dar algum trabalho mas que pode ser que venhas a gostar do resultado…

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  3. Não foi o final que estava à espera, mas tu avisastes que esta história ia ser diferente e foi...mas na minha imaginação a neta foi poupada :)
    E sim, foi um excelente thriller que gostei de acompanhar desde o primeiro capitulo!

    Escreves bem. Quisera eu ter essa capacidade de por em palavras tudo o que me passa pela mente, mas esse é um dom que só alguns têm e tu és um deles!
    Por isso continua, que terás por aqui uma leitora:)

    Beijinhos

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    1. BM,

      Fico contente que tenhas gostado de acompanhar.

      Obrigado pelo elogio. É bom saber que da próxima vez que me apetecer contar um história posso contar com a tua companhia ;)

      Beijinhos,
      FATifer

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  4. Meu caro rapaz,

    Apraz-me o facto de não teres caído na tentação de fazer o final feliz e bonito em que a heroína segue em direcção ao horizonte...
    Gostei, mesmo muito e isto só prova que devias fazer mais disto. MESMO!

    Um fortíssimo abraço

    :)

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    1. Meu caro amigo,

      Suspeitava que me compreenderias. Tinha avisado que esta história seria diferente. Por mais que goste de finais felizes aqui não fazia sentido. ;)

      Ainda bem que gostaste. Quanto a fazer mais disto… quem sabe… ;)

      Grandíssimo abraço,
      FATifer

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