quarta-feira, 2 de março de 2016

XXIII

Johanna estava um passo à frente do cadeirão. Katerina estava talvez a cinco passos dela. Num movimento rápido com a mão esquerda retira uma das facas de arremesso do seu braço direito e envia-a na direcção de Johanna, que mal tem tempo de se desviar. A faca fica espetada no cadeirão. Katerina preparava-se para retirar outra faca quando sente uma lâmina junto ao queixo.

- Eu disse que já chegava minha menina… porque é que só ouves quando falo esta língua?

Johanna permanece imóvel olhando para Katerina e Yuri. A expressão corporal de ambos demonstra resolução. Katerina desviara o olhar de Johanna e olhava de lado para Yuri.

- Yuri… o que estás a fazer?
- A chamar-te à razão.
- Eu disse para não te meteres…
- Minha menina… já chega. A brincadeira acabou. Já te disse que não a podes matar.
- Yuri, Yuri , Yuri… estás sempre a falar na promessa que fizeste ao meu pai e agora estás a ameaçar-me?
- Se prometi ao teu pai que olhava por ti, também prometi ao meu irmão que a protegeria a ela. Será que queres mesmo testar qual das promessas cumprirei?

Katerina olha directamente para Yuri, a expressão inquisidora e penetrante como que tentando intimidar. O olhar de Yuri mantém-se inalterável e fixo nela. Katerina, baixa os braços e coloca o punhal à cintura novamente. Yuri embainha o sabre japonês. Quando ambos deixam de se fitar mutuamente e olham para onde Johanna estava não a vêem. Olham-se incrédulos e correm em direcção à porta por onde entrara Katerina.


Um vulto negro salta um muro alto entrando num jardim. Move-se rapidamente atravessando o espaço aberto em direcção à ponta do edifício à sua frente. Os dobermann a um canto levantam o focinho mas não ouvindo mais nada voltam à posição de descanso. Encostado à parede dá dois passos e desaparece como se tivesse entrado por uma porta que não se vê.


- Como foste deixar a porta aberta?
- Porque é que me distraíste?
- Bem não vale a pena este jogo do empurra temos é de encontra-la!
- Pois que tal tentarmos a sala de vigilância?
- …e não é para aí que estamos a ir?

Yuri e Katerina tinham percorrido o pequeno corredor existente entre a sala de onde saíram e o grande hall onde agora entravam por uma porta dissimulada a um canto. No centro do hall estava uma escadaria em mármore. Eles dirigem-se a um porta no lado oposto ao por onde haviam entrado. Ao entrarem na sala de vigilância deparam-se com o vigilante de serviço a seguir um vulto todo de negro nos monitores.

- Petre necessitamos encontrar uma rapariga loura.
- Senhor, com todo o respeito, a principal ameaça está neste homem. Estava prestes a soar o alarme. Já matou cinco guardas. Passa por eles como se não estivessem lá!
- … se não te conhecesse Petre, diria que estás a exagerar.
- Pois antes estivesse menina.
- Mostra-me lá isso Petre.

Petre coloca num monitor a compilação das imagens que tinha guardado até ao momento, já a pensar no relatório que teria de fazer no fim do turno. Katerina e Yuri observam e por momentos esquecem Johanna.


Johanna recupera o folgo encostada a uma parede. Martinho estava errado não estavam no armazém. Olha em volta tentando perceber se haveria alguma câmara ou dispositivo de vigilância. Olha para o punhal na sua mão e recorda, a morte de Martinho, as palavras daquele homem, a luta com aquela mulher. Respira fundo e mexe-se em direcção à porta oposta àquela por onde entrou naquela sala.


Mais dois guardas no chão à sua passagem e o vulto de negro prossegue o seu caminho. Parece saber para onde se dirige, não mostra qualquer hesitação. Os guardas não conseguiram reagir, os golpes foram rápidos e precisos. Entra na sala seguinte, não vendo opositores acena para a câmara e prossegue o seu caminho.


- Nunca pensei que ele tivesse a ousadia de voltar…
- Já matou todos os outros, vem acabar o trabalho Katerina.
- Como se atreve! Acha que vai sair daqui vivo?!
- Não será melhor seguirmos o procedimento de evacuação de emergência?
- Yuri, estás a falar a sério?!


(continua)


FATifer

10 comentários:

  1. E o suspense continua, queres tirar a vez ao Alfred Hitchcock?

    :))

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    1. noname,

      Quem me dera conseguir chegar aos calcanhares desse mestre! Dito isto, já tinha assumido que me estou a esforçar por vos deixar em suspenso a cada texto… :P

      :)

      Beijinho,
      FATifer

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  2. FAT

    cada vez mais interessante...:)

    abraço

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    1. Desire,

      Continuo a esforçar-me para que assim seja ;)

      Abraço,
      FATifer

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  3. Excelente, FAT!! :)
    Não só pelo suspense criado à volta da luta entre as duas mulheres e a intervenção de Yuri, a favor de Johanna, mas pela riqueza de pormenores relativamente a toda a sequência da acção.
    A continuar assim, podes candidatar-te a substituto de Edgar Allan Poe. :)

    Este capítulo encheu-me as medidas!:)
    Até me pareceu que o homem de negro seguiu na frente, eliminando os guardas, abrindo caminho para que Johanna pudesse sair ilesa do armazém.

    Não digo isto para obter uma resposta tu, FAT. Quando leio um livro, não vou perguntar nada ao autor...mas sou livre de ir fazendo as minhas conjecturas, né ?? :))

    Gostei muito, Parabéns... O teu empenho está a ser muito frutífero!!;)

    Beijinhos! Cá fico a esperar novos e empolgantes narrativas.

    PS- Já pensaste no título para a história?

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    1. Janita,

      Reafirmo que é muito bom saber que estás a gostar. Entre a tua e a da noname fico com o ego a rebentar com as comparações! ;)

      Percebendo que as tuas perguntas são retóricas, acabo por responder para me meter contigo. Acho delicioso que verbalizes (escrevas) o que estás a pensar e as hipóteses que vais colocando ao ler. É interessante ter esse “feedback” e verificar que nem sempre coincide com o que pensei ao escrever. É essa a beleza da escrita, cada um que lê faz a sua história ;)

      Beijinhos,
      FATifer
      PS – ainda não cheguei a nenhum que me satisfizesse… acho que vai acontecer como com aquele conto que te mostrei primeiro, quando terminar o título acabará por surgir naturalmente ;)

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    2. :)

      Tem uma boa e inspiradora noite, FAT. :)

      Beijinhos!

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    3. Obrigado! Bons sonhos para ti.

      Beijinhos,
      FATifer

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  4. Eu acho que o gajo tava a falar a sério mesmo!

    :)

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    1. Tu percebeste mas e ela, será que perceberá? ;)
      (vamos ter de esperar pelas cenas dos próximos capítulos).

      Abraço,
      FATifer

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