quinta-feira, 28 de maio de 2015

Monólogo de mim… XXV

Só vejo escuro… com este filtro só vejo o que está mal. E está tudo mal. Perco a capacidade de olhar… e ver… o belo, a luz, o pôr-do-sol, tudo… todas as pequenas coisas que me podem alegrar, porque só vejo escuro. Deixo-me ficar assim, fingindo que não vejo saída, que vou ficar assim para sempre. Talvez porque hoje não me apetece fazer o esforço. Talvez porque quero sentir como seria se não o fizesse todos os dias. Só vejo escuro. Estou bem assim… a sentir-me mal, porque sim. É um privilégio poder estar assim… porque se quer e não porque “a vida” nos sorveu as últimas forças e nos fez desistir. Por momentos nada faço para contrariar o escuro, fito-o apenas e tento sentir tudo o que ele trás. Resisto a levantar-me, resisto a pôr uma música a tocar. Deixo os pensamentos à solta… está tudo mal! Sinto (ou penso que sinto) o que seria sentir desespero… é demasiado triste dar-me a este luxo mas hoje estou assim. Amanhã…? Amanhã já não verei só o escuro que há em mim…



FATifer 

2 comentários:

  1. A unica coisa de bom que há em reconhecer o escuro que há em nós é o facto de, por esse escuro existir, ficarmos com a certeza de que a luz existe!
    Ter e certeza que a luz existe é algo que só nos pode levar em frente, colocar-nos numa caminhada que nos leve a procurá-la...
    ...e não quer dizer que a encontremos (e por isso, por vezes há dúvida, há desânimo, há frustração)! Aliás, raramente alguém a encontra!
    Mas aquilo que vale verdadeiramente não é o destino, mas o caminho que percorremos para lá chegar.
    A busca dá-nos mais que o destino. Os caminhos têm sempre algo para nos ensinar.

    Se calhar estás apenas no começo de uma longa viagem...

    Diz-se que um ocidental procurou um sábio, um monge budista que vivia em reclusão e tinha fama de ser iluminado, para que este o ensinasse. O sábio recebeu-o com amabilidade e ofereceu-lhe um chá, que ele aceitou.
    O sábio serviu a sua própria chávena e depois começou a despejar chá para a do convidado. esta encheu e começou a transbordar. O ocidental, vendo aquilo, ficou na dúvida se devia chamar a atenção do mestre para o que estava a fazer, pensando que este estava simplesmente distraído.
    O mestre continuou a despejar chá, que começava já a molhar a pequena bandeja e a ir para além dela, até que o ocidental não se conteve:
    -Mestre, desculpe chamar-lhe à atenção, mas esta a entornar o chá...
    O mestre parou, olhou-o, sorriu e respondeu-lhe:
    -A chávena é a tua cabeça. O chá é o conhecimento que procuras. E, como vez, enquanto tiveres a cabeça cheio com o que já sabes, o conhecimento que procuras apenas vai tocar-te na superfície e espalhar-se à tua volta... Mas,... - disse ele pegando na chavena e esvaziando-a - ...se tirares o que já lá está,... - começou novamente a servir a chavena que encheu, pousando o bule a seguir - o que procuras entrará e ficará...

    Talvez o escuro seja apenas reflexo de um vazio que precisa de ser preenchido com algo novo...

    Fortíssimo abraço deste teu amigo

    :)

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    1. Meu amigo,

      É um privilégio ter um comentário mais interessante que o próprio texto, que não passará de um lamento de barriga cheia…
      Mas tentando responder-te… direi… que gostaria que tivesses razão quando afirmas que poderei estar “no começo de uma longa viagem”. Sei que depende de mim e talvez por isso duvide… estou cada vez mais preguiçoso… sei que devia fazer as coisas de outra forma mas não faço… é talvez masoquismo, é com certeza cobardia e um imenso comodismo (o que talvez me retire qualquer “direito” ao lamento).
      Enfim… acreditasse eu na reencarnação poderia contentar-me com a história que te deixo (como que em reposta à que partilhaste):

      Um homem chega ao pé de um sábio hindu sentado debaixo de uma árvore com uma copa do mais frondoso que se possa imaginar e pergunta-lhe:
      “Mestre, quantas vidas são necessárias para alcançar o Nirvana?”
      O sábio fita-o e responde pausadamente:
      “Vês esta árvore?... tantas quantas as suas folhas.”
      Ao que o homem retruque:
      “O quê, tão poucas!?”


      Grande abraço e obrigado pelas tuas palavras,
      FATifer

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