- Kitty! Não
tens mesmo respeito pela tua dona… que horas são?... já sei, horas de tu
comeres não é gata?!
Johanna
levanta-se e vai até a cozinha. Abre uma lata de comida de gato que deposita na
tigela de kitty que instantaneamente aparece por entre seus pés, “atacando“ o
alimento acabado de disponibilizar. Johanna segue para a cabine de duche.
Sentindo a água quente a bater-lhe nas costas, começa a acordar enquanto tenta recordar
o sonho que estava a ter.
Vira-se e deixa
a água cair directamente nos seus seios redondos como laranjas. Mecanicamente
procede à auto-apalpação, nada de anormal, está tão absorvida pela sensação com
que acordou e por não se conseguir lembrar do sonho que estava a ter que nem
produz o suspiro de alívio habitual que já se tornara ritual.
Fecha a água e
embrulha-se na toalha. Não tem planos para aquele sábado. Vai até à cozinha,
abre o frigorífico e retira um iogurte líquido, um queijo e um pouco de
chocolate preto. Abre o croissant que retirara do saco em cima da mesa e recheia-o
com queijo. Abre o iogurte e sorve um golo, enquanto pensa se tem alguma coisa
que precise comprar. Saboreia o resto do pequeno-almoço passeando pela casa.
Kitty também já acabou de comer e volta para o canto da sala onde gosta de
observar a dona que, depois de acabar de comer, entra no quarto. Por vezes
parece que são os gatos os donos e gostam de nos controlar. Kitty levanta-se e
entra no quarto onde Johanna se veste e apanha o cabelo num belo rabo-de-cavalo
louro. Já sabe que a dona vai sair e dirige-se para a porta para levar a
festinha na cabeça habitual.
- Vou só ali
abaixo às compras kitty, já volto.
Passa a mão pelo
topo da cabeça da gata enquanto o diz, abra a porta e sai.
Johanna chega à
mercearia do sr. António que a cumprimenta com aceno de cabeça e o sorriso
habitual.
- Bom dia menina
então que vai ser hoje?
- Bom dia sr.
António, queria umas laranjas e umas limas.
- E que mais?
- …um pacote daquelas
bolachas do costume, um molho de espinafres e um quilo de cebolas. Ah… e
aqueles espargos se já tiverem vindo.
- Sim menina já
estão ali guardados para si, e que mais?
- … só três
latas da comida para a Kitty.
- …muito bem, é
tudo?
- Sim, sr António,
de momento é.
- Aqui tem
menina, eu ponho na conta. Até logo.
- Obrigada, até
logo.
Johanna pega nos
sacos que o sr. António lhe entrega e retribui o sorriso que aquele homem faz
sempre que a vê, o que só faz aumentar o sorriso dele.
De volta a casa
arruma as compras enquanto kitty se passeia a seus pés.
O telefone toca…
- Estou?...
estou sim?... está lá?
Do outro lado
apenas se ouve um ligeiro respirar. Desliga o telefone com violência.
-… só me faltava
esta!
Pega no
telemóvel…
- Estou?
Martinho? Desculpa incomodar-te mas acho que ele voltou…
- Ele quem o teu
amigo?
- Não briques…
sabes se o meu telefone ainda está monitorado?
- …já não deve
estar mas sabes como essas ordens demoram a entrar em efeito… eu ligo para o
Vicente para confirmar. Mas achas mesmo que era ele?
- Conheço aquele
respirar…
- OK… eu já te
digo qualquer coisa, até já.
- Até já,
obrigado e desculpa.
- Johana somos
parceiros…
Johanna desliga
o telemóvel e olha a gaveta onde tem guardado aquele que prometeu a si própria
ter sido o último maço de cigarros que compraria na vida. Respira fundo, abana
a cabeça em negação e olha para kitty que está parada a seus pés fitando-a como
se que à espera de algo.
- Tens razão
kitty este palhaço não merece um cigarro!
Volta a olhar para
o telemóvel… vencendo a hesitação procura um número na agenda. Estabelece a
ligação…
- Sim…
…
- Pedro? Sou eu,
desculpa ligar-te assim mas acho que ele voltou…
…
- Não, não tenho
a certeza… mas aquele respirar não me deixou muitas dúvidas…
…
- Eu sei que é
pedir-te demais talvez mas…
…
- Sim… pronto…
desculpa… não, estou bem…
…
- Beijos…
… volta a fitar
o telemóvel expectante… o telemóvel, como que pressionado, toca.
- Martinho… e
então?
- Infelizmente
já não está monitorado…
- Ok… deixa… bom
fim de semana.
- Johana
qualquer coisa liga!
- … bom fim de
semana Martinho.
Senta-se no sofá
a olhar para o vazio. Por mais que soubesse que algo que não está resolvido
mais cedo ou mais tarde volta, não era a melhor altura pensa, como se houvesse
boas alturas para aturar psicopatas assassinos. O telefone volta a tocar…
Olha para o
aparelho e ao quinto toque atende.
- Estou
…
- Não minha
senhora isto é uma casa particular, enganou-se no número…
…
- Não faz mal.
Desliga o
telefone e recosta-se no sofá. Uma música invade a sala, olha para a
aparelhagem, a kitty tinha-a ligado inadvertidamente. A voz de Enya em “caribbean
blue” parece ajudar a que relaxe.
Não quer pensar
nele. Não quer recordar mas há coisas que parecem sempre escapar à nossa
vontade e tudo lhe volta à memória como se de um filme se tratasse:
(continua)
FATifer