sábado, 13 de fevereiro de 2016

XVI

Martinho chega à sua secretária e olha para Johanna sentada à sua. A expressão facial dela transmite um misto de raiva e espanto.

- Olá Johanna… ia dizer bom dia mas com essa cara… o que se passa?
- O que se passa?!... o caso do assassinato do Pedro foi-nos roubado! É o que se passa! Ou melhor… devia dizer: “desapareceu”.
- O quê?! Como assim?
- Entra no sistema e vê… aparentemente tornou-se “CONFIDENCIAL”.
- … mas como? Quem?... não é justo!
- … (Johanna olha para Martinho franzindo a testa)
- Queres ficar mais “bem disposta” ainda?
- O que foi?
- … lembras-te daquele caso do homem encontrado em avançado estado de decomposição?
- Sim, o que tem?
- Também foi tornado “CONFIDENCIAL”!
- Fantástico!

Johanna recosta-se na cadeira e olha para o tecto. Martinho continua a olhar par ao monitor.

- Sabes que mais? O Vítor Andrade, aquela testemunha que interrogámos, também apareceu morto.
- Mais alguma “boa notícia”?
- … aparentemente não.
-ÓÓÓÓhhhhh...


Ficam ambos sentados a olha para o quadro do caso que ainda têm mas onde, sem mais provas, pouco podem fazer.


Yuri está sentado num cadeirão numa sala com vista panorâmica para um dos pátios de treino. Observa Katerina enquanto esta ultrapassa cada obstáculo do percurso. A agilidade felina é admirável. Yuri carrega num botão e liberta uma lâmina enorme, em forma de meia lua, que fica a baloiçar à frente de Katerina. Ela pára e olha na direcção de Yuri. Sorri dá dois passos e salta por cima da lâmina num salto perfeitamente temporizado de forma a não ser atingida pelas correntes que sustentam a lâmina. Completa o resto do percurso e pára à frente de Yuri, fitando-o. Yuri levanta-se do cadeirão, abre a porta de vidro e encaminha-se na direcção de Katerina. Num gesto fluido e rápido pega numa das espadas do escaparate à sua direita e disfere um golpe na direcção de Katerina. Esta roda para o seu lado direito e com uma cambalhota alcança outra espada do mesmo escaparate mesmo a tempo de defender o segundo golpe de Yuri, desferido agora já com a mão esquerda. Yuri pára e sorri. Katerina endireita-se e devolve o sorriso.

- Sempre atenta! Assim é que é, minha menina.

Katerina inclina a cabeça ligeiramente para a frente, num esboço de um vénia, e retoma a sua pose altiva parando de sorrir. Vira-se e segue na direcção da porta que Yuri deixara aberta. Sem se virar diz:

- Vou tomar um duche e depois vamos almoçar.

Yuri segue-a enquanto dá indicação, pelo auricular que tem na orelha esquerda, para que o almoço seja preparado. Vinte minutos depois estão os dois sentados a almoçar um carpaccio de salmão com aspecto delicioso.


- Explica-me outra vez qual é o próximo passo para encerrar o assunto do Zangief?
- Katerina não te preocupes, está controlado.
- … controlado? Desculpa mas não concordo…
- Tu és como o teu pai… mas nem tudo se resolve matando…
- Volto a não concordar… até percebo que tenhas usado toda a encenação para atrair o Pedro Castro. E que fique aqui registado que nesta instância foste tu que optaste pela solução do meu pai. Agora explica-me porque é que não era mais fácil matá-la e pronto?
- Não podes matá-la…
- Porque não?
- Katerina, não podes matar toda a gente!
-… (Katerina olha Yuri com um ar de desafio)
- … Katerina… sei que achas que não mas até para ti há limites…

Katerina solta uma sonora gargalhada enquanto olha para Yuri que mantém o ar grave com que proferiu a sua última frase. Acabam a refeição em silêncio.



Um vulto de negro caminha num corredor estreito com paredes de tijolo burro. Perto do tecto vêm-se tubagens. No chão, aqui e ali, há poças de água. Caminha calma mas decididamente ao longo do corredor até chegar a uma escada embutida na parede. Sobe a escada até alcançar um alçapão que se encontra no tecto. Para e encosta a orelha direita à tampa redonda que mais parece uma tampa de esgoto. De seguida com o golpe do ombro direito empurra a tampa abrindo-a. Sai. Está num beco escuro. O dia está nublado e uma neblina algo densa não permite muitos mais que alguns metros de visibilidade. Fecha a tampa devagar emitindo o mínimo ruído possível. Caminha na direcção do nevoeiro que se adensa, desaparecendo no mesmo.



(continua)


FATifer

8 comentários:

  1. Acho que vou ter que chamar o Dr. Varatojo eeheheh

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    1. noname,

      … não faças isso! Senão acaba-se o mistério num instante! ;)

      Beijinho,
      FATifer

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  2. Essa Katerina é uma mulher perigosa e sem um pingo de piedade. Livra! A Johanna que se cuide...
    Hummmm, isso do caso se tornar "CONFIDENCIAL", traz água no bico.
    O melhor é ficar a ler, caladinha, e ver onde param as modas! :)


    ( Um aparte, FAT, uma cena do filme que exige 'estômago' é a cena do cavalo? :) )

    Beijinhos e que tenhas um excelente fim de semana.

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    1. Janita,

      Quanto à história não vou comentar. Reafirmo apenas a convicção que isto ainda vai dar algumas voltas (e sendo que sou eu que decido isso é mesmo capaz de assim ser!) ;)

      Beijinhos e bom fim de semana também para ti,
      FATifer

      PS – em relação ao teu à parte, cada um tem a sua sensibilidade mas as cenas do ataque do urso, dele a ser cosido depois ou a luta final, causaram-me muito mais impacto que a do cavalo!

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  3. Respostas
    1. Desire,

      Sim, continuo a prometer mas como dizia a Janita, palpita-me que isto ainda vai dar algumas
      Voltas! ;)

      Abraço,
      FATifer

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  4. Isto está cada vez mais interessante!
    :)
    Bjs

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    1. BM,

      Achas? :) … eu a pensar que estava cada vez mais intricado! ;)

      Beijinhos,
      FATifer

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