domingo, 17 de janeiro de 2016

VIII

Algures numa sala escura uma nesga de luz ilumina uma lâmina empunhada por um vulto negro. Parece que o sabre japonês dança no ar como que levitando em movimentos, ora rápidos ora mais lentos. Num silêncio que parece absoluto, apenas se houve o som da lâmina a cortar o ar. Por fim a lâmina desaparece e tudo fica escuro, mal se distingue o vulto que se move em direcção à porta. Num corredor iluminado por uma janela alta num dos topos onde a luz passa com alguma dificuldade pelo reticulado de vidros enegrecidos pelo tempo, distingue-se uma figura envergando um kimono negro movendo-se pausadamente. Depois de alguns passos vira-se e faz deslizar uma porta de correr. Entra numa sala pequena e dirige-se a um suporte de madeira onde deposita, com uma vénia, o sabre que levava à cintura. Dá dois passos atrás, ajoelha-se e senta-se nos tornozelos, com o tronco recto, permanecendo imóvel nesta posição.


Johanna e Martinho voltam à sala de observação contígua à sala de interrogação número dois. Olham aquele homem através do vidro/espelho.

- O que te parece?
- Parece-me que está a dizer a verdade…
- Mais um punhado de nada!
- Calma Johanna. Aprende-se sempre alguma coisa.
- Como por exemplo?
- Estamos a lidar com alguém, cuidadoso, metódico e com recursos.
- Ah… a partir da cena do crime no armazém não tinhas já concluído isso?
- Compreendo a tua frustração mas não sejas assim tão pessimista! Esta entrevista não foi uma perda de tempo, vais ver…
- Ficarei contente se te vier a dar razão… por agora acho que podemos deixar ir este pobre coitado.

Johanna regressa à secretária. Senta-se, roda a cadeira e fica a olhar para o quadro construído com os elementos deste caso. As fotos da cena do crime no armazém. O anel. O padrão geométrico. Levanta-se a e adiciona ao quadro a foto do sem abrigo – Vítor Andrade - que tinha nas mãos. Fica a olhar para o quadro.

- Chegaram os resultados da autópsia.
- E então, está no sistema?
- Não, não foi encontrado nenhum registo sequer semelhante.
- Como já esperava…
- Os resultados das análises toxicológicas também não revelam nada de incomum. Algum álcool no sague mas nada de drogas ou outras substância estranhas. O conteúdo do estomago revela que a última refeição terá sido um hamburger, muito mal mastigado por sinal.
- Eles bem dizem que essas coisas matam-te…
- Um pouco de humor! Mas que bem!
- … é tudo o que me resta. Como esperava a equipa forense não encontrou nem um vestígio de impressão digital ou qualquer outra marca na caixa ou no anel.
- Pois, também vi isso.

Johana levanta-se e fica olhar para a foto da vítima desfigurada, que está colocada ao lado da foto da cena do crime no quadro.

- Achas que é ele?
- Como disse o Pedro, podemos nunca ter a certeza.
- Sim sem mais provas está complicado.

Martinho senta-se à secretária e faz longin no seu terminal.

- Johanna, vem ver isto…
- O que foi?
- Tinha deixado indicação para ser notificado de caso algo “estranho” aparecesse em sistema…
- Sim e?...
- Ora vê, foi encontrado um corpo em avançado estado de decomposição num beco a três quarteirões do armazém.
- E o que isso tem de extraordinário?
 - Diz aqui que a vítima, um homem de 42 anos, só foi participado como desaparecido ontem e que há testemunhas que afirmam terem-no visto vivo há três dias atrás.
- E está assim tão mau o corpo?
- Vê a foto…
- Sim, um corpo não fica a assim num dia ou mesmo em três…
- Deixa ver se já está disponível o relatório da autópsia…
- Parece que não… mas fiquei curiosa. Regista-te para seres notificado quando estiver disponível, para depois analisarmos.
- Feito!
- E quanto ao nosso caso. Deu algum resultado a pesquisa que te pedi sobre o armazém?
- … nada de especial, o costume, companhia compra companhia que compra companhia, que abre falência, que os bens ficam para os bancos… não encontrei nada de suspeito nas transacções.
- E que tal irmos almoçar?
- Parece-me bem!



Pedro está sentado à secretária a ler o relatório da autópsia elaborado pelo Dr. Fernandes. Recebe um aviso de mensagem no canto do ecrã. Vai ver. O seu semblante torna-se mais grave à medida que lê. Levanta-se com um ar decidido. Entra na “sala das armas” e vai escolhendo. Coloca tudo o que não encaixa no fato paramilitar que já tinha vestido num saco. Desce até ao piso inferior num elevador. Olha os veículos que tem à disposição, como que indeciso qual escolher. Acaba por optar pelo Pontiac Trans Am. Entra colocando o saco no banco do pendura. O som do motor ainda parece ecoar naquele espaço quando os pneus já chiam na primeira curva.

  
(continua)

FATifer 

6 comentários:

  1. Caraças, esperar não está fácil eheheh
    mas, OK, lá terá que ser
    :)

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    1. noname,

      Compreendo que custe um bocadinho ficar à espera de mais… e agradeço a compreensão ;)

      Beijinho,
      FATifer

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  2. O mistério adensa-se e o leitor sofre!!...

    Então o tal carro que falaste, no post anterior, é o Pontiac Trans Am?

    Acho que esses carros nunca circularam por cá, pois não?
    Eram 'bólides' lá dos Estates, onde o combustível era (é) ao preço da chuva!

    Não sei bem. Acho que só ouvi falar deles nos livros policiais!! ;)

    Beijinhos!

    PS: O Pedro também faz parte desta equipa de investigação?

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    1. Janita,

      Confesso que estou a ser um pouco mauzinho mas é uma história de suspense ;)

      O carro que refiro no texto anterior seria o carro de serviço do Pedro e da Johanna, pelo que não seria o Trans Am. Quando escrevia imaginei a versão de 72 mas este modelo é icónico numa versão posterior em que foi usado na série que por cá se chamava “o Justiceiro”. Sim era o kit ;)

      Beijinhos,
      FATifer

      PS – o próximo texto responderá à tua dúvida… acho eu. :)

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  3. Pá, um Trans Am?

    ts ts...

    Vê-se mesmo que és gajo de motas!

    :)

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    1. Meu amigo,

      Não se pode agradar a todos… (mais um bocadinho dizias que o Pedro bem que mereceu morrer por ter escolhido este carro! :P)

      ;)

      Abraço,
      FATifer

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