Só vejo escuro… com este filtro só vejo o
que está mal. E está tudo mal. Perco a capacidade de olhar… e ver… o belo, a
luz, o pôr-do-sol, tudo… todas as pequenas coisas que me podem alegrar, porque
só vejo escuro. Deixo-me ficar assim, fingindo que não vejo saída, que vou
ficar assim para sempre. Talvez porque hoje não me apetece fazer o esforço.
Talvez porque quero sentir como seria se não o fizesse todos os dias. Só vejo
escuro. Estou bem assim… a sentir-me mal, porque sim. É um privilégio poder
estar assim… porque se quer e não porque “a vida” nos sorveu as últimas forças
e nos fez desistir. Por momentos nada faço para contrariar o escuro, fito-o
apenas e tento sentir tudo o que ele trás. Resisto a levantar-me, resisto a pôr
uma música a tocar. Deixo os pensamentos à solta… está tudo mal! Sinto (ou
penso que sinto) o que seria sentir desespero… é demasiado triste dar-me a este
luxo mas hoje estou assim. Amanhã…? Amanhã já não verei só o escuro que há em
mim…
de um projecto que recomendo que acompanhem, que, como até comentei no "livro das caras", me lembrei que tinha na estante por ler o livro que ontem acabei de ler:
Gostei bastante ao ponto de recomendar que
leiam… ficam algumas citações:
“… uma vez que a ciência não também não é o
supremo juiz da verdade.
Na verdade, a ciência apenas faz o que
pode, co a tradição e recursos que tem.”
“Como médico, habituei-me a tratar os
doentes, e sempre me pareceu chamar sistema de saúde ao conjunto das
organizações que lidam com a doença. Acho até que a saúde, a felicidade e o êxito
dependem essencialmente de outras actividades e instituições sociais que não as
terapêuticas.”
“Depois dos capítulos anteriores, será
natural que me preguntem para não ser doente mental. É a velha questão do que é
ser normal ou, pelo menos, mentalmente saudável. Mas aqui, desculpe-me o leitor,
estou pouco habilitado para lhe dar receitas seguras. Aliás, desconfio que alguém
o esteja embora não faltem propostas. O certo é que, existindo poucas maneiras
de se tornar doente (basicamente os 6 mecanismos propostos em cada um dos
capítulos anteriores), existem milhares de maneiras de se tornar saudável.”
“Até pode acontecer que que o leitor se
tenha identificado parcialmente com algumas das patologias propostas. Não se preocupe
com isso. Todos temos o direito de ser um bocadinho fóbicos quando a desgraça
se abate sobre nós, um pouco paranóides quando nos envolvemos numa luta
difícil, ligeiramente obsessivos enquanto estudamos a complexidade das coisas,
um pouco histriónicos quando nos queremos impor aos outros. Da tendência esquizoide
nascem teorias inovadoras e, através das mudanças de humor, a criatividade. Se
o leitor consegue fazer tudo isto com sucesso, os meus parabéns: sabe respeitar
os contextos da vida e adequar-se a eles. E, embora sejam admissíveis algumas combinações
verdadeiramente patológicas, ter todas as doenças é o mesmo que não ter
nenhuma. O importante é que a sua vida seja bem sucedida, você não se queixe e
os outros também não se queixem de si (a não ser que seja político, caso em que
todos se queixarão).”
“… a maior parte
dessas regras não estão escritas em lado nenhum. Resultam
de um acordo tácito entre as pessoas. Muitas vezes não passam por palavras ou,
se passam, estas servem apenas para as disfarçar, mantendo-as num segredo que
convém aos melhores jogadores.”
“ A fome de regras e certezas é muito
humana, mas o seu exagero pode conduzi-lo ao serviço de líderes paranóides.”
Estou a ficar cansado de fingir. A máscara,
que até a mim me engana por vezes, está cada vez mais pesada. Ao mesmo tempo é
cada vez mais difícil tirá-la até porque sem ela não sei se alguém me
conheceria… começa a faltar a paciência para fazer de conta… mas o que é que é
“viver em sociedade” senão um eterno fazer de conta que aprendemos desde
pequenos? Primeiro como que um jogo e só depois nos apercebemos (quando nos
apercebemos) que não podemos parar de jogar… se calhar quem não se apercebe é
mais “feliz”…
Não pedi para jogar este jogo mas sou
demasiado cobarde para sair dele e demasiado teimoso (ou será orgulhoso?) para
desistir. E então vou jogando, nem sempre bem, nem sempre com grande empenho. O
resultado, portanto, não pode ser grande coisa muito embora, como já a afirmei reiteradamente,
quem dera a muitos ter minha vida…
Tenho o privilégio de poder pensar e dizer
que estou cansado de fingir… e ainda me queixo como que porque devia ter “direito”
a poder ter outra coisa…
Estou cansado de fingir… talvez um dia
estarei cansado de estar cansado.