Um Amor Morto – Carla Pinto Coelho
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Não me acho competente para fazer uma apreciação literária
desta obra (ou qualquer outra), pelo que não o farei. Vou sim dar a minha
opinião depois de ter lido o livro. A sensação é de não ter perdido o meu tempo ao lê-lo.
O tema não é leve. O estilo de escrita também não, e obriga a ter atenção ao
que se está a ler (algo que me agrada). O discurso é admiravelmente objectivo
tendo em conta os sentimentos subjacentes ao relato. Para os que leram e os que
vão ler, pergunto-me quantos ficaram com o sorriso nos lábios que fiquei ao
chegar ao fim, confirmando algo que comecei a suspeitar no início?
Deixo-vos com algumas citações de excertos que me cativaram
particular atenção, como é meu hábito:
“Quem conhece o lado sombrio de alguém, o entende e lhe
sobrevive, está preparado para ser autêntico, para dar e receber apenas o que é
justeza, sem fingimentos.”
“Não, ela não procurava a perfeição, nem queria saber tudo,
que todos têm o direito ao seu quinhão de segredos e à sua gaveta fechada à
chave, escondida dos olhos curiosos.”
“As noites passadas sem dormir ou em sonhos cansativos
estavam a derrotá-la com a paciência de um jogador de xadrez, movendo as peças
negras da noite no tabuleiro da mente dela, num xeque-mate absurdo, onde
primeiro tinha tombado o Rei só depois tombaria a Rainha.”
“Deixou-se cair no soalho, puxada pela gravidade dos
acontecimentos…”
“ …talvez todas as recepções de consultórios fossem
assim, talvez houvesse uma linha decorativa que obrigasse aos tons pastel e aos
sofés em cubo.”
“Uma rajada de vento atirou chuva apertada contra a
dureza do vidro, desfazendo-a num lamento. As mãos afogaram-se em lágrimas.
Para se salvar do naufrágio, pegou na carteira e saiu.”
“É preciso dizer que os vivos, os que são deixados, se
sentem menos vivos cada vez que deixam de viver para a frente e voltam para trás,
cada vez que suspendem a existência, cada vez que se perdem pelos labirintos da
saudade.”
“A noite aproximava-se, diminuindo a luz do sol até o
desligar. A cidade agitava-se numa correria de dona de casa com pressa de
acabar o jantar. As luzes iam-se acendendo pelas ruas e a casa cobrindo-se de
penumbra.”
“E se, no fim de tudo, as grandes decisões da vida fossem
tomadas de rompante, numa fracção de segundo que condicionava todo o futuro? E
se não passássemos de animais tidos como racionais que tão-só seguiam a
intuição, sem se guiarem pela razão, nem pesarem as consequências?”
“- Vivemos obcecados com as respostas como se elas
servissem de alguam coisa…”
“- O que quero dizer é que há uma necessidade exasperante
pelas palavras, que seja dito rigorosamente que é por isto ou por aquilo –
suspirou. – O silêncio também fala e muitas vezes expressa-se melhor que os
grandes discursos.”
“A cidade desligou o sol e escureceu por a ver tão triste”
“O Outono envelhecia as árvores, arrancava-lhes as
folhas desgastadas e vestia-as de cores escuras, a prepará-las para o luto desprendido
do Inverno, um tempo de meditação que explodiria em flores e folhas tenras e
vida, na Primavera.”
Para aqueles que não tenham já ajudado a tornar este projecto
uma realidade no crowdfunding e
estejam interessados em adquirir o livro, podem fazê-lo no site da editora livros
de ontem.
FATifer