Yuri olha para
Johanna, depois para Katerina.
- É uma longa
história… tudo começou nas planícies geladas da tundra siberiana.
- Não vais
contar história da vida do meu pai, pois não?
(Katerina andara
mais uns passos e podia agora ver directamente Johanna. Esta mantinha-se imóvel
no cadeirão olhando para Yuri)
- Katerina,
ensinei-te muito mas paciência, não te consegui ensinar…
- Versão curta,
por favor! Como é que esta loura é filha do meu pai? … sim que da minha mãe
duvido que seja.
(Johanna olha
momentaneamente para Katerina e recebe de volta um olhar que mais parece uma
chicotada)
- Como queiras…
como sabes, o teu pai teve muitas mulheres. A tua mãe tolerava mas no dia que
lhe chegou aos ouvidos que nascera outra filha dele… bem digamos que foi um
milagre que a Svetlana, agora Johanna, tenho sobrevivido. A mãe dela não teve a
mesma sorte.
(As feições de
Johanna alteraram-se ligeiramente, há uma surpresa no seu olhar)
- Não acredito
em “milagres”, conta lá esse pormenor melhor…
- Não assisti. O
que sei foi o que o meu irmão me contou no seu leito de morte. Já que queres a
“versão curta” vou-me escusar a detalhes sobre o que fizeram à mãe mas foi o
meu irmão que salvou a menina.
- O teu irmão?
- Sim ele amava
a mãe e tinha jurado, a ela e ao teu pai, proteger a menina até à morte. Coisa
que fez anos mais tarde.
- Estou a ver…
porque falas nele, não te vou ofender perguntando-te se não estás a inventar
esta história toda só para salvar esta loirinha… mas vou perguntar o que
estavas a pensar fazer antes da minha interrupção?
(Katerina olha
para Johanna que lhe tenta devolver a “chicotada” com o olhar. Katerina fita
Yuri aguardando resposta).
- Eu ia tentar
acalmar esta jovem…
- Às vezes
acho-te piada Yuri… criticas-me mas… explica-me lá… matas a criatura que vinha
com ela e depois vais “acalmá-la”. Se fosse eu no lugar dela acho que eras tu
que já estarias calmo, demasiado calmo até.
- Katerina…
- E tu ó loura, vais
ficar aí caladinha?
(Johanna olha
Katerina e depois Yuri, tentando avaliar até que ponto devia ou não responder)
- Bem, se não
dizes nada vais ter de te mexer… Yuri devolve-lhe o punhal.
- O que vais
fazer?
- Estou a dar o
benefício da dúvida à tua história… mas se ela é mesmo filha do meu pai vai ter
de mo provar. Não te preocupes eu não a vou magoar… muito.
- Katerina…
- Vá Yuri,
deixa-te de coisas, devolve-lhe o punhal senão isto será ainda mais injusto
para ela!
Yuri faz
deslizar o punhal pelo chão e este fica aos pés de Johanna. Katerina deixa cair
no chão o longo casaco comprido que envergava. Johanna permanece imóvel olhado
para Katerina. Observa-a, toda vestida de preto. Cabelo preso num longo rabo de
cavalo. Botas com saltos agulha, fato de couro colado ao corpo. Em vários
pontos da indumentária tem o que parecem ser pequenos punhais ou facas de
arremesso.
- Minha cara, é
assim: ou te levantas e lutas ou morres. Prometo ser rápida.
Katerina retira
um punhal que tinha à cintura e avança em direcção a Johanna. Nesse instante
Johanna apanha o punhal, que tinha à sua frente, dá uma cambalhota e vira-se,
ficando em pose de espera com o punhal na mão direita e a lâmina para fora. Yuri
afastara-se. Katerina parara o seu movimento e fita Johanna.
- Afinal estás
cá!… ok vamos dançar.
Katerina volta a
avançar e desfere um golpe com o punhal. Johanna bloqueia o golpe e os três
seguintes, demonstrando agilidade e reflexos. Katerina dá um passo atrás e fita
de novo Johanna. Esta responde com um ligeiro sorriso, mantendo uma expressão
concentrada.
- Para primeira
impressão não está mal. Agora vamos ver do que realmente és capaz.
Katerina investe
na direcção de Johanna. Os golpes sucedem-se. O som metálico das lâminas a
encontrarem-se repete-se, ecoando pela sala. Yuri, encostado à parede, observa
aquela estranha dança. Duas mulheres numa coreografia muito particular. Observa
a elegância e precisão dos golpes de Katerina mas igualmente a destreza e
agilidade da defesa de Johanna. Katerina aumenta o ritmo e o inevitável
acontece, com um gesto mais largo consegue um golpear Johanna no braço
esquerdo. Param por momentos. Katerina com um sorriso lambe da lâminha do seu
punhal o sangue de Johanna. Esta levanta as sobrancelhas, acena com a cabeça
para o braço direito de Katerina olhando em seguida para a lâmina do seu punhal,
por um instante. Katerina perde o sorriso ao aperceber-se que também havia sido
golpeada. A sua expressão demonstra misto de raiva e ultraje.
- Já chega
meninas!
- Como já chega?
Esta… loura… teve a ousadia de me atingir! Isto não fica assim!
- Katerina! Tu é
que pediste a demonstração…
- Yuri… não te
metas, isto só acaba quando eu quiser!
(continua)
FATifer